Não compre este livro
Na redacção de A Verdade há um
livro à venda, mas não deve comprá-lo. Eu comprei-o porque, enfim, sou (quase)
da casa... e tinha de ser solidário (nos tempos que correm, fica mal não o
ser!). Depois embrulharam-no com o rótulo ‘é por uma boa causa!’, e quando nos
dizem isso nós, para não nos envergonharmos de não apoiarmos ‘boas causas’,
compramos. Mas você não vá em cantigas. Não compre este livro. Previna-se. O
livro chama-se Migalhas de verdade! Tenha cuidado e seja fiel à tradição. Em
Portugal lê-se pouco, não queira dar uma de intelectual! Não deixe que os seus
amigos o vejam com um livro na mão! Depois ‘verdade’, que ‘verdade’? A verdade
da Any, claro. Por isso, cuide-se! Se é daqueles que vai mais pelas verdades
doutros gurus, tipo João Baião, Teresa Guilherme, Ediberto Lima — ou dos que estão por detrás deles, e todos
eles são boas pessoas! — não deve comprar o livro. Não se contagie com o vírus
daquelas ‘migalhas’! Migalhas? Mas ela da verdade só tem migalhas? Não
encontrou palavra mais consistente para dizer do que sabe? Sei lá, resmas?
Paletes? Gigas? Então, esta não é a era da Net? Não havia nexecidade!
Depois se prosa do género não faz o seu gosto, tenha
cuidado, não se deixe contaminar. Leia outras coisas, ou nem leia, assim de
certeza não se contamina!
Agora, defenda-se, previna-se decentemente, que vou
transcrever algumas migalhas da Any:
«(Amor) Há quem pense que
amar é só dar. Não é verdade. Amar é também ser capaz de receber e de acolher o
amor de outra pessoa».
«(Criticar) Se
conseguíssemos todos amar na proporção com que criticamos, certamente o nosso
mundo transbordaria de amor».
«(Deus) Não é o meu
espanto perante a grandeza do amor de Deus que é de admirar; o que espanta e
causa uma admiração inexplicável, é que Deus ame e repare no nada que eu sou».
«(Julgar) Julgar os outros
é fácil. Compreendê-los, nem por isso.»
«(Mentira) Seria mentira
dizermos que não mentimos».
«(Morte) Se morrer fosse o
fim, a vida seria uma caricatura».
«(Oração) Fazer oração não
é falar de Deus, é falar com Deus».
... Eu não li mais. Fiquei
contaminado. Nem sei como resisti até á letra ‘O’! Não lhe dizia? Não compre
este livro que corre perigo! Se o levar para o quarto pode não dormir durante
muitas noites seguidas. Cuide-se!
Aviso
Dentro em breve estará cá fora a segunda edição de
Migalhas de verdade. Como quase pela certa perdeu a primeira, aproveite e
telefone para o seu jornal (255 534 850) pergunte qual é a ‘boa causa’ e
encomende um livro. Mas só aceite de for da segunda edição, porque a primeira
tem vírus! Depois não diga que não foi avisado...
Tomás Moro
Nasceu em Londres em 1478, e ali morreu decapitado no dia
6 de Julho de 1535. Foi advogado famoso, membro do Parlamento e prestigiado
juiz. Esteve ao serviço do seu país, servindo-o em diversos cargos, mas nunca
privou a sua família da sua atenção. Na sua vida pública sempre actuou como
intelectual empenhado sem desprezar o humanismo. Aos quarenta anos servia
directamente o rei Henrique VIII, e aos cinquenta foi nomeado Lord Chanceler do
Reino, cargo de que se demitiu dois anos depois. Íntegro e recto não desejava
secundar o Rei que enviesava a lei e manipulava o Parlamento. Na sequência foi
encarcerado durante ano e meio, foi processado, condenado e executado. No seu
processo recusou ser defendido, por se encontrar do lado da verdade. Foi
coerente até ao fim, e por isso morreu mártir por amor à verdade, à liberdade
de consciência e à fé. «Morro como servo do Rei, mas primeiro de Deus» foram as
suas últimas palavras.
Foi canonizado pela Igreja Católica em 1935; desde 1980, é
também reconhecido como mártir pela Igreja Anglicana. O dia 31 de Outubro
passado foi proclamado pelo Papa João Paulo II como Padroeiro dos governantes e
dos políticos.
Vindos de muitas áreas políticas, culturais e religiosas
centenas de políticos e governantes do mundo inteiro secundaram a petição de
Francesco Cossiga, ex-Presidente da república italiana, ao Papa por causa do
testemunho íntegro que o «Pai dos pobres» deu.
Numa época em que a consciência dos que exercem funções
públicas parece muitas vezes eclipsada, quando não poucos governantes servem o
interesse pessoal e ou para sobreviver renegam a consciência, é animador
verificar que existe, nas pessoas que se dedicam à política, a necessidade de
um modelo (de santidade), de um ponto de referência. Este não podia ser melhor:
é o homem que fugiu do êxito e do consenso fácil por fidelidade aos princípios
que fundam a dignidade da pessoa humana e a justiça social.
Mesmo na iminência da morte Sir Tomás Moro manteve sempre
o bom humor. Subindo para o cadafalso diz ao verdugo que lhe cortará a cabeça:
«Ajuda-me a subir as escadas, porque de descer me encarrego eu»!
Eis o Padroeiro dos governantes e
dos políticos! Foi político e cristão. Serviu a Deus e serviu o homem. Serviu a
causa comum e a fé. Deu a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E,
falsamente, em nome da lei que serviu, roubaram-lhe a cabeça.
Um político que no cadafalso
perde a cabeça é um grande desafio para os que o escolheram como padroeiro!
5’
Acontece que há noites em que
oiço o que o papa português do Jazz manda: 5’ de Jazz. Não é por culto, nem por
cultura. É que o transístor encravou naquela frequência... Uma destas noites
cumpriu-se a emissão número 7979. A multiplicar por cinco dão muitos dias de
música alternativa!
Em tempos também habituei-me a
‘ouver’ o José Duarte num programa de televisão. Também sobre Jazz. E o que me
fascina no homem é a tenacidade. Cinco minutos todos os dias, passando música
que a rádio portuguesa habitualmente não passa, é fidelidade e acreditar no que
faz e, consequentemente, uma grande universidade a ensinar sobre o Jazz.
Há um spot de divulgação do programa de Jazz em que ele,
na sua voz inconfundível, diz mais ou menos assim: “ouça Jazz. 5 minutos por dia,
pelo menos! O homem merecia uma medalha. E se a não tem já, tem pelo menos o
reconhecimento de muitos. Certamente não se importará com o meu, mas à minha
maneira também o admiro.
Algum dia copio o José Duarte e digo: leia, leia 5 minutos
da Bíblia ao menos cinco minutos todos os dias! Nem me parece muito, mas os
benefícios nunca seriam de menos! Cinco minutos de intimidade com a Palavra
(desa)sossegada do Deus que se revelou em Jesus Cristo (e já não tem nada mais
para dizer senão dizer o que disse o Filho!) era muito aprender. Muito
aprender!
Algum dia promovo a ideia. E depois ficarei à espera de
noutro dia além poder dizer com o mesmo embargo na voz, como o J. Duarte disse
esta noite: «gosto de números. Esta é a edição...»; e depois, simplesmente, lerei
cinco minutos da Palavra.
1’
Certo homem atravessou mares e terras, a fim de
pessoalmente verificar e testar, a excepcional fama do Mestre.
—
Que tipo de milagres fez ele?, perguntou a um dos seus
discípulos.
—
Bom, respondeu o discípulo, existem milagres e
milagres... Na sua terra, é tido como milagre o facto de Deus fazer a vontade
do homem. Na nossa terra, o milagre consiste em encontrar um homem que faça a
vontade de Deus!
[5 de Maio de 2001]
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