Euro
Quando o Euro foi aprovado numa
cimeira da CE a melhor tirada foi a do senhor Engº António Guterres. Dadas as
suas raízes nem estranhou: —E sobre este
Euro fundarei a Europa. Não posso precisar se disse a Europa ou a nova Europa.
E talvez nem seja importante. Ressoam ali palavras evangélicas, mas como dizia
nem é de estranhar.
Ouvi dizer, por estes dias, que
uma qualquer comissão europeia elogiou Portugal (talvez à falta de melhor
razão, quem saberá...) pelo empenho que tem posto na divulgação da nova moeda,
o Euro. E parece que os elogios nem iam para os esforços oficiais, mas para o
empenho da Igreja em explicar aos seus a realidade da nova moeda. Sabendo-se
das nossas raízes a descoberta deste veio pelo marketing político-económico
também não é de estranhar. Para dizer a verdade e responder a quem me vai
perguntando, no nosso Santuário tal ainda não se faz nem recebemos in-formação
para tal. Mas quem parece ter recebido mais elogios da tal comissão europeia
foi um tal senhor reverendo de Ourique que decidiu (é o que a notícia dizia:) pregar o Euro!
Sempre ouvi dizer que a nossa missão é outra, a de pregar
a Verdade. Não me fere o desajuste; não me incomoda a descoberta; até me agrada
que tal serviço público seja feito. Mas, pronto, já me espanta a inversão do
discurso. Nós só temos uma Palavra para ser dita e não é certamente o Euro!
Bem pode o cardeal Joseph Ratzinger pregar, como o fez no
início do mês de Março na Faculdade de Teologia da UCP – Porto, que os
fundamentos espirituais da Europa são as raízes cristãs e que sem referência a
elas a Europa não se aguentará. Bem pode...
Greve
Já que estamos com a mão na massa deixo por escrito o que
ainda não tive coragem de dizer, embora algum dia o diga e reflicta numa
homilia. Que se passaria se um dia nós, os padres, fizéssemos greve durante um
mês? São só quatro ou cinco domingos, mas como não trabalhamos só ao domingo
muito ficaria por fazer. Ainda ninguém me respondeu porque ainda não perguntei
a ninguém. Mas que se passaria na sociedade portuguesa se fizéssemos greve
durante trinta dias? E se fosse no tempo à volta da Páscoa, porque para ter
efeito elas devem situar-se onde mais doem?
Parece-me que nos querem amansar. Não sabem, a verdade é
essa, nunca ouviram dizer que o profetismo nunca foi nem será uma fera. Querem
a Igreja num cantinho, acomodada a assistir e, no máximo, a fazer zapping. Lá
querer querem...
Ainda não são conhecidos os dados do Censos que a Igreja
realizou no passado dia 11 de Março. Vozes colaterais dizem-me que na Roma
portuguesa e em relação ao Censos de 1991, a participação dominical descerá
para metade! O resultado do Censos ajudará a responder à questão da greve. Mas
não responderá totalmente. Como também não chegará uma resposta que avalie a
questão apenas pelo lado da rotina. É que ser-se cristão não é uma questão nem
de hábitos nem de acomodação, mas de vida, de compromisso, de vida comunitária
vivida em fé, esperança e caridade. E a verdade é que para isso também são
precisos os padres.
Também ainda não sei responder à pergunta, mas sei que as
consequências não seriam visíveis apenas na Igreja e quase aposto que as
menores até se passariam dentro da igreja. E já agora, convém lembrar palavras
recentes do senhor Cardeal Patriarca: não são os ataques que vêm de fora que
nos preocupam. Esses sempre nos fortaleceram, lembro eu...
Morte
Morreu um sacerdote. Morrem muitos. Cada vez mais. E cada
vez menos são os jovens que se ordenam. Este chamava-se Javier Gafo e era
espanhol. Quem anda por estas margens às vezes encontra estes nomes em livros,
artigos, textos e não sabe que tipo de pessoa ficou do outro lado. Eu já o
conhecia de alguns títulos, mas nem sabia que o homem ainda vivia. Agora que
ele morreu fiquei a saber coisas que me alegram por o ter conhecido. Num dos
seus textos diz: «No fim da minha vida desejo que eu seja recordado pelo maior
dom que recebi de Deus: ser sacerdote!». Ainda não tinha 60 anos e foi grande
parte do tempo pároco em Madrid. Foi também escritor, colaborador de revistas,
pregador, cientista-biólogo, professor, conferencista. E também disse o que
muitos dizemos: «Não, não quer morrer. Nem quero que morra para sempre nenhum
daqueles que eu amei, nem nenhum ser humano. Quero encontrá-los de novo no
universo de Deus. Estou convencido que Deus, amigo da humanidade e amigo da
vida, nos voltará a juntar...». Era, só podia ser, um homem de fé. E assim
falava. E assim morreu.
Muita gente em Espanha falou da sua morte. Do que ouvi
retive um pequenino título: «Sempre fiel!». Título muito pequenino, mas para
quem tanto escreveu, opinou e ensinou é um grande elogio.
Era um homem que cruzava culturas e saberes, com
fidelidade. Por isso gostava de saborear uma frase de um místico muçulmano, Ibn
Arafí: «Aquele que conheceu Jesus contraiu uma grave doença que não se pode
curar.».
Não admira que tenha morrido fiel!
Hallelu-Yah
Aleluia! Ressuscitou! Completaram-se as maravilhas de
Deus! Louvai a Yah(vé), louvai a Deus! Alegrem-se em júbilo o monturo e o
descampado, os bosques e as praias, as cidades e o campo. Ressuscitou!
Os de fora com a colaboração de um de dentro e a
indiferença e o medo de todos levaram Jesus à morte. Mas não sabiam — como
poderiam saber o que só depois se pode aprender? — que a sua morte mataria a
falsa vida para nos dar a Vida! Dar sim, mesmo sabendo que não saberíamos
receber, que teríamos de nos converter por não estarmos preparados para receber
mais do que somos capazes de receber! São assim as medidas de Deus: escusados
exageros! E por isso morremos porque a Vida não cabe nem se saboreia em
plenitude desde este tosco e acanhado copo de vinho que somos! Como conter uma
pipa de vinho apenas num copo? Só partindo o copo.
Aleluia! Ressuscitou! A salvação, a glória e o poder
pertencem ao nosso Deus, porque os seus julgamentos são verdadeiros e justos.
Aleluia! Ressuscitou! Ó feliz culpa que nos trouxe a
alegria!
[9 de Abril de 2001]
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