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sexta-feira, 8 de março de 2013

Notas de Roda-pé


Euro
Quando o Euro foi aprovado numa cimeira da CE a melhor tirada foi a do senhor Engº António Guterres. Dadas as suas raízes nem estranhou: —E sobre este Euro fundarei a Europa. Não posso precisar se disse a Europa ou a nova Europa. E talvez nem seja importante. Ressoam ali palavras evangélicas, mas como dizia nem é de estranhar.
Ouvi dizer, por estes dias, que uma qualquer comissão europeia elogiou Portugal (talvez à falta de melhor razão, quem saberá...) pelo empenho que tem posto na divulgação da nova moeda, o Euro. E parece que os elogios nem iam para os esforços oficiais, mas para o empenho da Igreja em explicar aos seus a realidade da nova moeda. Sabendo-se das nossas raízes a descoberta deste veio pelo marketing político-económico também não é de estranhar. Para dizer a verdade e responder a quem me vai perguntando, no nosso Santuário tal ainda não se faz nem recebemos in-formação para tal. Mas quem parece ter recebido mais elogios da tal comissão europeia foi um tal senhor reverendo de Ourique que decidiu (é o que a notícia dizia:) pregar o Euro!
Sempre ouvi dizer que a nossa missão é outra, a de pregar a Verdade. Não me fere o desajuste; não me incomoda a descoberta; até me agrada que tal serviço público seja feito. Mas, pronto, já me espanta a inversão do discurso. Nós só temos uma Palavra para ser dita e não é certamente o Euro!
Bem pode o cardeal Joseph Ratzinger pregar, como o fez no início do mês de Março na Faculdade de Teologia da UCP – Porto, que os fundamentos espirituais da Europa são as raízes cristãs e que sem referência a elas a Europa não se aguentará. Bem pode...

Greve
Já que estamos com a mão na massa deixo por escrito o que ainda não tive coragem de dizer, embora algum dia o diga e reflicta numa homilia. Que se passaria se um dia nós, os padres, fizéssemos greve durante um mês? São só quatro ou cinco domingos, mas como não trabalhamos só ao domingo muito ficaria por fazer. Ainda ninguém me respondeu porque ainda não perguntei a ninguém. Mas que se passaria na sociedade portuguesa se fizéssemos greve durante trinta dias? E se fosse no tempo à volta da Páscoa, porque para ter efeito elas devem situar-se onde mais doem?
Parece-me que nos querem amansar. Não sabem, a verdade é essa, nunca ouviram dizer que o profetismo nunca foi nem será uma fera. Querem a Igreja num cantinho, acomodada a assistir e, no máximo, a fazer zapping. Lá querer querem...
Ainda não são conhecidos os dados do Censos que a Igreja realizou no passado dia 11 de Março. Vozes colaterais dizem-me que na Roma portuguesa e em relação ao Censos de 1991, a participação dominical descerá para metade! O resultado do Censos ajudará a responder à questão da greve. Mas não responderá totalmente. Como também não chegará uma resposta que avalie a questão apenas pelo lado da rotina. É que ser-se cristão não é uma questão nem de hábitos nem de acomodação, mas de vida, de compromisso, de vida comunitária vivida em fé, esperança e caridade. E a verdade é que para isso também são precisos os padres.
Também ainda não sei responder à pergunta, mas sei que as consequências não seriam visíveis apenas na Igreja e quase aposto que as menores até se passariam dentro da igreja. E já agora, convém lembrar palavras recentes do senhor Cardeal Patriarca: não são os ataques que vêm de fora que nos preocupam. Esses sempre nos fortaleceram, lembro eu...

Morte
Morreu um sacerdote. Morrem muitos. Cada vez mais. E cada vez menos são os jovens que se ordenam. Este chamava-se Javier Gafo e era espanhol. Quem anda por estas margens às vezes encontra estes nomes em livros, artigos, textos e não sabe que tipo de pessoa ficou do outro lado. Eu já o conhecia de alguns títulos, mas nem sabia que o homem ainda vivia. Agora que ele morreu fiquei a saber coisas que me alegram por o ter conhecido. Num dos seus textos diz: «No fim da minha vida desejo que eu seja recordado pelo maior dom que recebi de Deus: ser sacerdote!». Ainda não tinha 60 anos e foi grande parte do tempo pároco em Madrid. Foi também escritor, colaborador de revistas, pregador, cientista-biólogo, professor, conferencista. E também disse o que muitos dizemos: «Não, não quer morrer. Nem quero que morra para sempre nenhum daqueles que eu amei, nem nenhum ser humano. Quero encontrá-los de novo no universo de Deus. Estou convencido que Deus, amigo da humanidade e amigo da vida, nos voltará a juntar...». Era, só podia ser, um homem de fé. E assim falava. E assim morreu.
Muita gente em Espanha falou da sua morte. Do que ouvi retive um pequenino título: «Sempre fiel!». Título muito pequenino, mas para quem tanto escreveu, opinou e ensinou é um grande elogio.
Era um homem que cruzava culturas e saberes, com fidelidade. Por isso gostava de saborear uma frase de um místico muçulmano, Ibn Arafí: «Aquele que conheceu Jesus contraiu uma grave doença que não se pode curar.».
Não admira que tenha morrido fiel!

Hallelu-Yah
Aleluia! Ressuscitou! Completaram-se as maravilhas de Deus! Louvai a Yah(vé), louvai a Deus! Alegrem-se em júbilo o monturo e o descampado, os bosques e as praias, as cidades e o campo. Ressuscitou!
Os de fora com a colaboração de um de dentro e a indiferença e o medo de todos levaram Jesus à morte. Mas não sabiam — como poderiam saber o que só depois se pode aprender? — que a sua morte mataria a falsa vida para nos dar a Vida! Dar sim, mesmo sabendo que não saberíamos receber, que teríamos de nos converter por não estarmos preparados para receber mais do que somos capazes de receber! São assim as medidas de Deus: escusados exageros! E por isso morremos porque a Vida não cabe nem se saboreia em plenitude desde este tosco e acanhado copo de vinho que somos! Como conter uma pipa de vinho apenas num copo? Só partindo o copo.
Aleluia! Ressuscitou! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, porque os seus julgamentos são verdadeiros e justos.
Aleluia! Ressuscitou! Ó feliz culpa que nos trouxe a alegria!

[9 de Abril de 2001]

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