Surpresa
Havia um rei a quem sempre liam o
jornal. Desde o trono e com ar sério o exigente rei não permitia que se
omitisse o mais pequeno dos títulos. E os servos liam obedientemente ao rei
todos os títulos do jornal. Porém, jamais liam as letras pequeninas das
notícias. Achava o rei que não deveria perder tempo com as letras pequeninas. E
como não tinha paciência para elas ninguém lhas lia, e o rei não se inteirava
do que diziam. Um dia o povo expulsou o rei do seu país e só o rei estranhou a
ínfame expulsão de que se julgava vítima. Porém, isso era algo muito claro para
os que liam as letras pequenas do jornal.
Herói
Se se puder falar de heróis depois do
Ataque à América eu já tenho o meu. Chama-se Mychal Judge. Para ele era banal
entrar na Casa Branca porque era habitual convidado dos presidentes
norteamericanos, e por isso franqueava com naturalidade as portas da residência
oficial do Presidente. Entrar ali ou na sede dos bombeiros de NY, socorrer os
pobres ou visitar os doentes da sida era quase a mesma coisa para Mychal Judge.
Judge era o padre capelão dos bombeiros
que socorreram as vítimas das Twin Towers. O seu colega Bill Feehan morreu ao
ser atingido por uma mulher que caíra de um dos andares do edifício. Contra
toda a prudência — porque mais que colega e bombeiro Judge era padre — recusou
abandonar o local e ficou junto do moribundo celebrando com ele o sacramento da
Unção dos doentes (há quem ainda lhe chame extrema unção...). E de lá não
regressou, porque não teve tempo de retirar-se. A derrocada veio por aí abaixo
e sepultou-o vivo.
Quando a noite do absurdo cai e nos
cobre Deus dá-nos pequenas luzes que nos revelam que a esperança tem raízes no
Seu coração, e que, por isso, nascerá sempre uma nova aurora!
Obrigado, M. Judge.
Ressuscitado
Eu vi a fotografia do P. Judge morto.
Está sentado numa cadeirinha e cinco fortalhaços trazem-no até nós. Três são
bombeiros, um é polícia e o outro é, supõe-se, um voluntário civil. O P. Judge
vem reclinado sobre o seu lado direito, a dormir. A dormir, não. Vem
sossegadamente, ressuscitado. Como só um herói que oferece a vida merece!
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Antes de morrer Todd não ligou para a
mulher. Podia tê-lo feito, mas não ligou. Desde o avião que ajudou a derrubar
para que o Ataque à América não fosse maior Tood preferiu, antes de morrer,
falar com uma telefonista de Chicago. Como sabia que ia morrer perguntou-lhe se
ela sabia rezar e pediu à telefonista que rezasse com ele. E rezaram juntos.
Grande é o mistério da oração. Um homem
arbitrariamente condenado e morto levantou-se em contra-ataque contra os seus
iníquos juízes, e num acto heróico frustou-lhes os planos. Grande é o segredo
da oração. Tão grande que tem de ser partilhado.
Vou rezar
Dai-nos, Senhor, um olhar limpo que não
Te manipule; dai-nos um coração que sinta como sente o Teu coração; dai-nos,
Senhor, um coração que ame como ama o Teu coração; dai-nos, Senhor, um coração
que se indigne como se indigna o Teu coração; dai-nos, Senhor, um coração que
perdoe como perdoa o teu coração.
Ajuda-nos, Senhor, a crescermos juntos.
Amen.
1’ de sabedoria
Você se orgulha demais da sua
inteligência!, disse o mestre a um dos seus discípulos... Você lembra-me um
condenado que, dentro da prisão, se gloria da grande vastidão da sua cela!
[23 de Setembro de 2001]
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