Boavista
Viva o Campeão!
Agora que está de regresso o futebol vou explicar os
fundamentos da vitória do Boavista. Claro que não tenho pretensão de me
candidatar a Bitaites.
Há cerca de uns dez anos a Direcção do S. C. de Braga
convidou-me a sentar-me entre os seus sócios e assistir a um jogo de futebol.
Comigo foram três adolescentes. Eu não era de Braga, o Vítor era de Famalicão,
o Nuno de Castelo Branco e o Miguel Ângelo de Chaves. A equipa visitante era o
Boavista. Por deferência, obviamente, eu era arsenalista; os outros calada
(estavam sentados em terra estrangeira...) mas assumida e firmemente eram
panteras.
O jogo não empolgou. Os panterinhas ao meu lado estavam
satisfeitos: empatavam fora; do outro lado os vermelhos ferviam porque a bola
não entrava onde devia: na baliza do Boavista. Eis senão quando, quase perto do
fim, um jogador do Boavista (Sanchez?) consegue uma grande bomba e um golo de
bandeira. Ganhou o Boavista. Ao meu lado
o Miguel saltou como uma mola e festejou o golo do Boavista. Institivamente o
desespero dos arsenalistas cravou-se em nós. Nós felizes, eles tristes. E todos
sentados na bancada do sofrimento... Naturalmente pareceu-nos que deveríamos
sair dali não fosse o diabo tecê-las...
Se conto este facto é para dizer que há dez anos já muita
juventude era boavisteira, e o Boavista já podia deslocar-se ao terreno dos
adversários e encontrar apoio. Certo que era discreto e até encoberto, mas
também já passaram dez anos.
Depois, claro, já se sabe que um bom caminho para o êxito
passa pela conjugação de inspiração e da transpiração: 20% para a primeira, 80%
para a segunda...
Viva o campeão!
Papa
No dia 18 de Maio o Papa cumpriu 81 anos de idade. No dia
16 de Outubro celebrará 23 anos de papado. Em toda a história do Cristianismo
só seis papas governaram a Igreja mais tempo que João Paulo II. Se chegar a
Fevereiro de 2002 só serão cinco!
Em vinte e três anos de pontificado realizou 93 viagens
internacionais e 137 dentro de Itália. Escreveu 13 encíclicas, 11 exortações
apostólicas, 10 constituições, 23 motus próprios; convocou 12 sínodos;
promulgou 1235 beatificações e 443 canonizações.
É o Papa da aurora do III Milénio.
Não deixa de ser curioso verificar que quando todos
promovem e preferem a juventude e a beleza a Igreja continua a apresentar como
chefe um velho alquebrado. Começamos um novo milénio com um Velho à nossa
frente! Talvez sirva para recordar que não há novidade sem o sarro da memória,
não há juventude sem a temperança da experiência, não há sonho sem realismo.
Em João Paulo II se cumpre aquela palavra paulina é quando
sou fraco que sou forte. O que me parece um óptimo slogan para um século que
acaba de nascer.
Cardeal
No dia 18 de Maio, São Clemente de Basto, a Igreja e o
Estado homenagearam o cardeal D. António Ribeiro. No dia 24 completavam-se três
anos da sua morte. D. José Policarpo, seu sucessor no Patriarcado, disse que é
em momentos como este que um homem transcende o imediatismo da sua vida neste
mundo. O senhor Presidente da República, elogiou a serenidade do homem da transição.
As palavras talvez não tenham sido bem estas, mas não devo errar muito numas ou
noutras.
Em São Clemente de Basto inauguraram-lhe uma estátua. Só a
conheço no seu esboço e por fotografia. É robusta e sólida, apoiada e
consistente, com uma grande base de apoio na terra mas apontando para o céu.
Não me sugere a ideia de quem viveu o reboliço dum período de transição, mas
fala-me da segurança de quem no esboroar-se da conjuntura, de quem no suave
desvanecer-se dos princípios, sabe onde está a meta sem esquecer onde está o
ponto de partida.
Todo o homem tem dimensão de eternidade. Quem duvidar deve
ir urgentemente a São Clemente de Basto.
Peregrinação
Já peregrinei à ponte de Entre-os-Rios. Foi na terça-feira
de Pentecostes. Mais que ir, passei por Entre-os-Rios. O Douro corria sereno e
suave; não fora um rio e eu diria que estava sereno e suave. A entrada da ponte
tem três barreiras: uma sinalização para ser vista de noite; três enormes
blocos de cimento mais à frente; e um enorme portão de ferro que impede a
vista. Quem quiser ir mais além ou vai pedir a chave aos Bombeiros locais ou
sobe à parede lateral da ponte. Eu preferi subir e olhar por cima do portão.
Rezei uma Ave-Maria, um Pai-Nosso e um Glória ao Pai.
Bem sei que existem normas de segurança. E se existem é
porque devem existir. Mas não deveriam impedir de entrarmos naquele cemitério,
naquele rio santo. Uma vez disseram-me que os cemitérios são as melhores
universidades: não há quem ali não vá parar, e se não for mestre universitário
se-lo-á da vida. Eu gostaria de ter entrado naquele pedaço de ponte. Como não
foi possível olhei-a, e rezei, e associei-me às homenagens de tantos
desconhecidos que ali ainda vão trazendo flores e velas.
Falta talvez ali uma cruz, ou algo que remeta para o sagrado,
algo que nos recorde que a vida acabando aqui se prolonga para Além, mesmo que
a ponte caia. Essa é a verdade. Se lá não puseram nada que nos remeta para
Além, ao menos ali permanecerá a Ponte da Tragédia para nos recordar que entre
a vida e a Vida existe uma ponte que não cai! Mesmo que pareça...
1’
O discípulo pediu ao Mestre uma palavra de sabedoria. E o
mestre respondeu:
—
Sente-se dentro da sua cela, e ela sozinha vai
ensinar-lhe a sabedoria.
—
Mas eu não tenho cela. Não sou monge!, respondeu o
discípulo.
—
É claro que você tem uma cela: olhe bem dentro de si
mesmo!
[18 de Junho de 2001]
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