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domingo, 10 de março de 2013

Notas de Roda-pé



Chuva
Lembro-me de há uns anos a seca ter sido tanta que alguns lugares mandaram sair os padres e os bispos para os campos e implorar de Deus o dom da chuva. Não foi há muito tempo. Quase pareceria que foi ontem não fora vermos a chuva que choveu durante quase meio ano!
De Deus tudo nos vem, menos o mal. O Filho que Ele nos enviou ensinou a pedir sem cessar, porque o Pai, nosso e d’Ele, é bom. Quer dizer é bom como um pai bom. Mas é muito melhor. Porque se um pai bom é capaz de nos dar coisas boas, que coisas nos não dá Aquele que é dono de tudo e Pai bom e Pai nosso?
Também aprendi que Deus nos atende, atende sempre. Nunca deixa pedidos guardados no livro do deve e haver. Diz S. João da Cruz que Deus sempre concede o que lhe pedem; acontecerá, porventura, que o que concede não é segundo a forma que pedimos, mas segundo o que Ele entende ser o que mais necessitamos. E até dá mais do que pedimos. Ah!, e S. João da Cruz ensinava ainda outra coisa: não se deve pôr nem datas nem fronteiras a Deus. Ele que é fiel e nos ama jamais se esquecerá de nós! Por isso depois da seca veio a chuva e virá o bom tempo para as sementeiras e para as colheitas. Não tenho dúvidas, embora a água tivesse sido demais para as nossas fronteiras.
Às vezes, porém, num exercício de impaciente humildade desço lá baixo e pergunto ao senhor Bernardo: «Senhor Bernardo, que tem vamos ter amanhã?». E ele olha, fareja o tempo e responde com sabedoria: «Olhe, tem chovido muito. Se calhar nem me lembro de um Inverno assim. Ontem choveu, de noite choveu, hoje choveu, a semana passada também. Amanhã não sei...». E enquanto tira o chapéu, descobrindo a cabeça, conclui: «Não sei que lhe diga. Irá chover? Irá fazer bom tempo? Não sei. Deus é que sabe, Deus é que pode». E pode. E é bom. Por isso é que Lhe rezamos nem só para pedir.

Rosto
No sábado passado, 14 de Março, fui entrevistado por três criaturas especiais. A Rita (7 anos), a Patrícia (11 anos) e o Duarte. A última pergunta foi sobre a reportagem à volta do Verdadeiro rosto de Jesus. Só a Rita não sabia do que se falava porque não tinha visto a reportagem. Eu também não, mas por outras razões. A verdade é que na idade dela eu também preferiria o programa dos desenhos animados. Naquele tempo o Sandokan.
Como dizia a última pergunta era mesmo sobre o Verdadeiro rosto de Jesus que uma universidade inglesa descobriu! Tudo correu bem até ao fim, na pergunta e na resposta. O pior, digo, o melhor veio no fim. De microfone fechado a Patrícia (que havia feito e bem a minha descrição-apresentação no início do programa) disse-me: — «tu és parecido com Jesus!». A Patrícia é simpática, acontece, porém, é que o Verdadeiro rosto de Jesus é bastante feio! Logo a boa intenção daquelas simpáticas palavras até nem era um elogio por aí além!... Mas já lá vamos...
E vamos ao Verdadeiro rosto de Jesus e aos meus espantos sobre o tema. A minha primeira reacção foi pensar numa bem montada operação de marketing usando o veículo que é o rosto de Jesus. E se calhar é verdade. Convenhamos que quem dois mil anos depois descobre o Verdadeiro rosto de Jesus merece toda a credibilidade e confiança! Mas o tema obriga-me a outras observações. Assim, observo e espanto-me que o rosto de Jesus seja ainda muito procurado. E é-o; e cada vez  mais por aqueles (como parece ser o caso) o buscam pelos caminhos da ciência e não da fé! Muitos são os que buscam o rosto de Jesus, alguns não O conhecem de lado nenhum. Não O conhecem. Não O amam. Não O seguem. Mas buscam o seu rosto... E isso é fantástico! E responsabilizante: ora se muitos há que buscam Jesus a verdade é que também nós, seus discípulos (e irmãos!) devemos arriscar, sem medo, uma resposta. E nós sabemos onde Ele está e conhecemos o Seu rosto. Havemos, portanto de apontar o seu rosto naqueles que Ele mais ama: o rosto dos pobres!; o rosto dos desfavorecidos!; o rosto dos excluídos!; o rosto dos marginalizados!; o rosto dos esquecidos!; o rosto dos-sem-rosto!; o rosto dos irmãos! Foi com eles que Jesus se identificou. Para aqueles a quem ninguém vinha nem a quem ninguém ia Jesus é Salvador. Identifica-se com eles, transforma-lhes as expectativas, e a eles e a nós mandou Amai-vos uns aos outros como eu vos amei! Pois, se vos amardes uns aos outros Deus permanece em vós!

Páscoa
Esta é uma anedota pascal que não se devia contar. E é também a prova de que o veículo é mau, mas o conteúdo é bom; a forma não é a melhor, mas a mensagem é proveitosa.
Pergunta: porque é que Jesus não escolheu os homens como primeiras testemunhas da Ressurreição?
Resposta: porque se queria que a notícia fosse conhecida devia revelá-la a quem não fosse capaz de a guardar em segredo!
Eu não dizia que era uma anedota que não se devia contar? Perdoem-me as mulheres; e aprendam delas os homens a ser no testemunho da Ressurreição tão bons quanto elas! Continuação de Santa Páscoa.

Correcção
Avisaram-me que deveria fazer duas correcções às últimas Notas. Assim quando falava de CE (Comunidade Europeia), deveria dizer UE (União Europeia). E quando falava do Censos de 11 de Março realizado pela Igreja deveria ter falado do Recenseamento da prática dominical. Ninguém é perfeito, e corrigir não custa.

[17 de Abril de 2001]

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