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domingo, 21 de abril de 2013

Notas de Roda-pé




Moscovo
O Papa foi a Moscovo. Mas não chegou a sair do Vaticano onde estava reunido com oito mil jovens universitários. São as maravilhas da sociedade da informação. Quando o seu rosto e a sua voz apareceram no écran da catedral católica de Moscovo os mil jovens moscovitas acolheram-no com uma salva de palmas. De cinco minutos, nada menos. Nesta visita virtual o Papa falou. Falou que:
«É necessário construir uma nova Europa.
«Só os homens e mulheres novos poderão renovar a história.
«É necessário promover o diálogo entre a fé e a cultura nas universidades para que a levedura do Evangelho estimule e sustente espiritual e moralmente a investigação.»
Antes do Papa falara um académico. Anatoly Fiodorovic Jotov, professor de Filosofia, participara no Vaticano no Jubileu dos professores Universitários. Então compreendeu «o quão perigoso é que a ciência não tenha ética, pois produz monstros!», e por isso «pediu à Igreja para ser baptizado». Depois do Papa falou outro académico, Yuri Antonovich Simonov, professor de Física teórica e director do Laboratório de Física nuclear do Instituto ITEP de Moscovo. E conclui: «o laboratório e o oratório complementam-se!». Felizmente há técnica e ciência. E ali há também fé. Felizmente.

Cherne
Quem ainda puder leia Joaquim Fidalgo, Público, dia 20, página 14; e Ana Sá Lopes, Público, dia 21, página 6. Leia e reconhecerá ali os sinais dos tempos para os de tempos e olhares curtos.
E a contrabalançar fique-nos uma frase da Narração da Paixão segundo S. Mateus (26, 56): «Então todos os discípulos O abandonaram e fugiram». Pudera! Estava preso... Não mostrara ser o Messias desejado... Já não se lembravam dos milagres... Frustrara todas as expectativas.... Não tinha nada para dar. É isso, não tinha nada para dar. (Aparentemente, claro...).

Semente
Isaías Duarte era arcebispo de Cali, Colômbia. Era, digo bem. Depois de presidir a um casamento na igreja do Bom Pastor retirou-se para a sacristia, depôs os paramentos e à saída ainda sorriu para os 140 católicos com quem celebrara em fé o amor. Ao entrar no carro aproximaram-se dele dois jovens pistoleiros que o atingiram com seis balas. E mataram-no. Não foi nada a que não se esteja habituado por aqueles lados...
D. Isaías prometera revelar a influência do dinheiro da droga na política colombiana. Ao avisar o que iria revelar o bispo sentenciou-se. Mas quem o matou não sabe (ou não quer saber) o seguinte: Não sabem ou não querem saber que era verdade o que o bispo tinha para dizer. E a prova é que assinaram as palavras do bispo com balas e com sangue. Se fosse mentira por que o matariam?... 2. Não sabem ou não querem saber que o sangue dos mártires é semente de novos cristãos (foi o teólogo Tertuliano quem o disse, e a história prova-o). Por isso aquilo que o bispo não disse (mas que outros deixaram que fossem balas e sangue a dizê-lo) di-lo-ão as sementes do seu martírio.

Notícias
No último Sporting-Salgueiros, quase no final do jogo, liguei o rádio. Para saber o resultado e ter som-de-fundo enquanto trabalhava. Faltava pouco para terminar. Numa pausa do jogo ouço este comentário do relatador «— ...E o senhor que estava a ler o jornal já está quase a terminar! Já vai nas últimas páginas! (E em jeito de desabafo e desaprovação) Vir ao futebol para ler o jornal...».
Pois é, pá... Nem sei como foi o jogo. Mas vou ajudar-te a entender o homem. Certamente não era espião (ou então disfarçava bem); talvez fosse portista; talvez nem gostasse de futebol; ler é melhor que ver futebol; era o Nelson do Masterplan; era...
Pois é. O pior é que assim como aquele respeitável cidadão insultou o futebol, assim outros e outras respeitáveis insultam o Estado, a Pátria, o Outro, a Igreja, a Moral. Valha-nos quem nestes campos ainda se indigna com a distracção e desleixo de tantos.

Pedras
Gosto muito quando as bocas cantam a fé. Gosto de entrar em procissão e de ouvir (e cantar com quem canta) aquele cântico que todos sabem: «Nós somos as pedras vivas do templo do Senhor»...
No dia 10 de Março eu não estive na bênção da igreja paroquial de S. Ovídio, em Vila Nova de Gaia. Mas deve ter sido esse o cântico de entrada que aquela comunidade cantou. O templo ainda não está concluído, mas também nenhum de nós o está. E assim como o templo já serve para abrigar a glória de Deus e a comunidade reunida, assim, nós, as pedras vivas, vamos aperfeiçoando o altar do coração onde vive e celebra a Santíssima Trindade.
A igreja paroquial de S. Ovídio ainda não está concluída. Fique-nos ainda o testemunho do Pároco àcerca da colaboração das pedras vivas de S. Ovídeo: «ao longo de 40 anos muitos colaboraram. Lembro um operário que ofereceu um mês de trabalho (mas a Comissão não aceitou tão grande sacrifício); lembro um novo casal que não comprou um novo móvel para sua casa para que a Casa de Deus fosse mais bela. Lembro muitas migalhas, muitas areiazinhas...».
É assim mesmo, nós somos pedras vivas!

Páscoa
Há poetas clarividentes. Um poeta declarou estarmos ameaçados de vida. E estamos. São os frutos da Páscoa de Jesus. Morreu para viver. Morreu para que vivêssemos. Morreu para nos ameaçar com a vida. Ó feliz culpa! Páscoa feliz!


1’ de sabedoria
-- Ajude-nos, Mestre, a encontrar a Deus!
-- Nisso ninguém os pode ajudar.
-- Por que não?
-- Pela mesma razão pela qual ninguém pode ajudar peixe algum a encontrar  o oceano.

[24 de Março de 2002]

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