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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Um sinal (quase) invisível



No dia 2 de Fevereiro — quarenta dias depois do Natal — celebramos a Festa da Apresentação do Senhor no templo de Jerusalém. À entrada do templo o Menino Jesus, aconchegado ao colo da Mãe, foi reconhecido por dois velhos, Simeão e Ana, que, vigilantes e esperançosos, se haviam preparado para ir ao Seu encontro. Depois o Menino foi apresentado, isto é, oferecido em oblação a Deus, porque Ele é o Salvador que veio em obediência ao Pai para nos salvar. O dia 2 de Fevereiro é também o dia da Vida Religiosa ou Consagrada, daqueles e daquelas que ofereceram a vida toda e por toda a vida a Deus e à Igreja.
É certo e sabido que todos os séculos cristãos conheceram homens e mulheres empenhados em seguir o caminho proposto por Jesus, imitando-o radicalmente. E também é facilmente reconhecível que cada um adere a Jesus seguindo diferentemente o seu apelo «Vem e segue-Me». Os séculos sucederam aos séculos e a Igreja foi-se revestido de novos rostos e de formas novas de seguir o Mestre, renovando os modos e as respostas que o Espírito Santo vai inspirando às necessidades de cada época. Por exemplo: a comunidade apostólica é diferente da martirial, a monástica diferente da missionária. E todas irmãs e cristãs, e todas imitadoras de Cristo. Também em nossos dias existem discípulos determinados em seguir a Jesus Cristo. Todos em radical fraternidade, nem todos da mesma forma. Pois, se continua válida a Igreja estrutural e hierárquica é hoje cada vez mais necessária uma alternativa carismática e refrescante que se manifesta no surgimento de grupos religiosos que se propõem seguir a Cristo em liberdade e imitá-lO diferentemente, segundo modos novos que são dom do mesmo Espírito à Igreja.
O sinal de que aqui se fala é pois o da Vida Consagrada, o da existência daqueles homens e mulheres que consagraram a sua vida livre a Deus e à Igreja em pobreza, obediência e castidade. Deve, porém, considerar-se que um sinal só é sinal e só faz sentido se chegar a ser aquilo que se convencionou que fosse. Deve por isso poder ver-se, porque se não for visto não sinaliza, logo não cumpre a sua função. Logo não é sinal, mas uma contradição e negação do que deveria ser.
O que se diz diz-se dum qualquer sinal. De que serve um sinal num caminho ou num campo se o mato cresceu e o ocultou? Até pode estar lá a avisar a presença dum tesouro, mas se não for visto e percebido ninguém escava à procura do tesouro. Logo o sinal não cumpre a sua missão.
Há também sinais que com o passar do tempo e do uso se desgastam e se banalizam, perdem sentido, força e vigor. Não assim com a Vida Religiosa ou Consagrada, verdadeiramente um sinal no seio da Igreja que o Espírito Santo vai renovando e actualizando. Não assim, pois, com a vida dos frades e das freiras e de outros muitos consagrados, autênticos sinais do Reino no seio do Povo de Deus.
A oferta de nós mesmos, os Consagrados, os que vivemos em entrega pobre, casta e obediente a Cristo e à Igreja, não está de todo gasta, saturada de sentido, seja por excesso seja por defeito. Certamente, não por acaso, há poucas semanas, o bispo da nossa Diocese manifestou na nossa Comunidade a sua «alegria por ser mais bispo (se assim se pudesse falar...) por ter na minha diocese homens e mulheres consagrados; não muitos, mas ainda assim presentes, actuantes e fecundos.»
Não me admira a mim que um Bispo conhecedor do seu rebanho conheça e agradeça a vida, presença e serviço dos Consagrados. Nem me admira que gostasse de ter mais, e que reze para os ter melhores. Mas já me admiraria muito que em Viana do Castelo existam muitos cristãos que conheçam e reconheçam a totalidade (ou até mesmo grande parte) da presença dos Religiosos no seu seio. E que agradeçam também esse dom que somos, um dom gratuito entregue por Deus ao seu povo. Saberá a Igreja de Viana o nome das famílias religiosas que aqui conjuntamente caminhamos e nos santificamos? Saberá reconhecer o tesouro que tão delicadamente o Espírito lhes sinaliza? Saberá reconhecer, agradecer e retribuir enriquecendo-as com novas vocações?
No conjunto da peregrinação de fé do Povo de Deus faz sentido que haja quem assim tão belamente se entregue a Deus e à Igreja. Como dom total, livre e gratuito. Somos, parece, um dom esmorecido na Igreja. Não o sejamos por muito mais tempo, porque a torcida ainda fumega! Haja, pois, esperança.
O dia 2 de Fevereiro é o Dia dos Consagrados. Uma festa discreta para gente discreta, que de tão discreta é um sinal quase invisível, oxalá como o sal: invisível mas presente e bom.

[Chama do Carmo - 1 Fevereiro 09]

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