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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Por que tocam os sinos (do Carmo)?


Pronto, já está. Depois de alguns percalços (assim a memória perdurará mais!) e de muita competência (para que a dureza da tarefa fosse melhor de levar) lá se ergueram os novos sinos da nossa Igreja do Carmo, que voaram para o respectivo lugar como voam os pássaros para o ninho. Um, o de São João da Cruz, ficou virado para Darque e há-de ali fazer-se ouvir rompendo a largueza do rio; o outro, virou-se para a Abelheira a recordar-lhe que a colmeia é aqui.
Os sinos são voz. (Hoje não tanto como antes!) Mas ainda voz.
Como patronos dos novos sinos elegeram-se São João da Cruz, Fundador da nossa Ordem, e São Paulo, por ser este o ano da celebração do bimilenário do seu nascimento. Das inscrições com que os assinalamos, destacamos duas: o Escudo da Ordem — logo dos 390 anos do Convento — um trabalho do designer Manuel Felgueiras, que replica a cruz que encima a torre sineira da nossa Igreja do Carmo; e a mensagem retirada dos ensinamentos de um e outro Patrono.

— «Ó toque delicado,Verbo Filho de Deus Pai!»
No sino de São João da Cruz inscrevemos esta frase retirada do seu livro Chama de Amor Viva, a sua obra mais elaborada teologicamente e fruto da sua maturidade espiritual. Ao comentar a segunda estrofe o Santo exalta a potência e a delicadeza do toque de Deus, que só com o seu olhar consegue fazer tremer a Terra, mas que contudo, tem, para nós, um toque de suave delicadeza que engrandece e enobrece quem assim é tocado, até à sublime união que não consegue dizer-se nem dizer-se deve.
O toque do sino de São João da Cruz há-de, pois, recordar-nos que para todos Deus tem um toque que nem todos, lamentavelmente, sabem, saboreiam ou querem.

— «Não abandoneis a Igreja»
No sino de São Paulo inscrevemos esta frase retirada da Carta aos Hebreus. Este sino erguerá a sua voz neste tempo de deslace mais profundo, de anemia de compromisso, em que muitos se deixam escorrer, desanimados, pelo aconchego da corrente do desinteresse, ledamente enganados e embalados pelo convite a ir-se sem mais. Não abandonar a Igreja é não abandonar o rebanho de Cristo; é, ao contrário, entrar mais e mais, a fim de empreendermos a demanda do anúncio de termos um Pastor, pelo qual nada nos falta.
O som do nosso sino chama-nos à canseira da sementeira, ao empenho na casa da Igreja. Aqui há um coração comum, uma corresponsabilidade que nos anima a caminhar o mesmo caminho e com o mesmo ardor.
Os sinos convocam para reunir o Povo de Deus, as pedras vivas do seu templo do Senhor. Se as pedras não se dispõem como devem, não formam o que devem e logo a Igreja não acolhe, nem guia nem aconchega tão bem.
Soem, pois, os nossos sinos e chamem-nos, porque nós iremos.


(Chama do Carmo - 21 DEZ '08)

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