...

domingo, 21 de julho de 2013

Notas de Roda-pé

Sinais

Há sinais e sinais. Para tudo são precisos. Não passamos sem eles. Dos caminhos às igrejas; dos bancos das escolas aos hospitais; do mundo do campo à indústria e às universidades. Eles estão presentes, falam-nos, orientam, informam, movem, comovem. Às vezes são discretos, outros nem por isso. Aqui vão alguns que eu vi recentemente.
Por estes dias ou os olhos se me abriram mais ou vi o que não costumo ver. Na verdade, fiz mais quilómetros que os que costumo fazer. E talvez por isso vi mais. Que sinais vi eu para que aqui fale deles?
Vi uma grande faixa atravessada dum lado a outro duma estrada anunciando e promovendo um encontro paroquial numa praia. Não me espantaria nada nem dela aqui falaria se a faixa falasse e anunciasse outras coisas. Mas arregimentava para um convívio paroquial. Numa estrada onde passam paroquianos de outras paróquias e nem todas católicas. Ora, perguntei-me eu e sigo perguntando-me, os convívios paroquiais anunciam-se a todos ou também ao estranhos? Anunciam-se aos de dentro — uma paróquia por muito aberta que seja é sempre um círculo fechado! — ou a todos? Bem, eu compreendo que algumas ovelhas vivam mais ou menos desgarradas, e que por força da lei do desgarro possam não ouvir a voz do pastor quando ele fala para o redil. Posso compreender o dinamismo da comissão organizadora querendo apelar a que ninguém falte. Posso também compreender que se convoquem aqueles que não são Igreja. Mas aquele acto de família paroquial não pode ser para mim. Ou para outros que como eu leram a mensagem. Poderá? Será que eu poderei aparecer na praia da Apúlia no dia certo? São sinais. Apenas sinais. É pelo menos sinal de que nem tudo se vive dentro da igreja.
Seguindo viagem vi mais à frente, já noutra cidade — e depois também na minha —, muitas bandeiras portuguesas. Ainda vi uma rua cheia delas. Estavam todas amarelecidas, debotadas, desfiadas, rasgadas. Mas que feio, pensei! Então o povo que ergueu a Bandeira porque o Seleccionador pediu, não terá agora vergonha de exibir o símbolo nacional tão degradado e deprimente. Eu sei que é um sinal. Apenas um sinal. Mas seria escusado proclamarmos tão declaradamente a proverbial depressão nacional. Ou só nos animamos quando há futebol? Ou as únicas grandes causas que nos movem são o futebol e... mais nenhuma? Ou não estamos nada deprimidos e queremos é enganá-los e por isso deixamos lá fora a Bandeira num falso esquecimento? Mas poderá ela perder assim o seu brilho? Poderemos nós ter tão pouco orgulho nacional ao ponto de não sabermos erguer a nossa Bandeira?
Será? Não sei. Mas que é um sinal, é. E de desprestígio.
E vi outro sinal. Já não é a primeira vez que saindo da auto-estrada me deparo em certo viaduto com uma inscrição: Jesus é o Senhor! E agora digo eu: é sim senhor! Não sei quem é o autor da façanha. Mas sei que o Senhor foi recentemente avivado com um amarelo forte, para não deixar dúvidas a ninguém. A mim não deixou. Quem quer que por ali passe — e passam muitos — e saiba português ou não vá a falar ao telemóvel, leva com a mensagem nos olhos: Jesus é o Senhor.
Estamos em tempos onde tudo o que cheire a religião é varrido para debaixo do tapete. Isto, porém, ainda não conseguiram. Parece-me acontecer aqui aquela história da manta curta, que para cobrir os ombros descobre os pés. Isto é, quanto mais remetem a religião para a Sacristia, mais ela estala noutros lugares bem visíveis e inesperados. Escondem-na no recato e ela manifesta-se por cima dos telhados. Resguardam-na em armazéns (ou museus) e ela desponta fresca e à janela.
Pode ser até que quem ali gritou, isto é, ali escreveu, não afirme a fé publicamente. Pode ser. Pode ser que prefira ficar anónimo, que não seja uma testemunha valente. Mas algo passou em alguém que teve necessidade de nos mostrar naquilo que acredita.
Um jornal diário fala da abertura duma esplanada no Porto. Traz um fotografia a ilustrar. E é tão bem tirada a foto que até traz um teatro onde decorre uma peça sobre Jesus Cristo. A peça está anunciada na frontaria e o nome, Jesus Cristo, aparece ali bem exibido. Não sei o que levou a reanimar tal musical sobre Jesus quarenta anos depois dele ter sido um êxito mundial. Sei sim, mais uma vez, que se não O procuramos nas igrejas, Ele surpreende-nos nas praças, nos teatros e nas esplanadas. Se não Lhe cantamos nos templos e santuários, Ele aparece a cantar nos palcos. Se não O saudamos nos sacrários, Ele faz-nos vénias desde o palco sugerindo-nos as palmas.
É assim. São quase tudo sinais imprevistos. Sinais que talvez  não devessem aparecer. Sinais que outros desejariam obnubilados ou pelo menos  discretos, e que, afinal, nos aparecem por cima dos telhados e nos assaltam as vistas e os olhos.
São sinais, simplesmente sinais, senhores.
(O Padre Rui Osório, no JN de hoje, Domingo, 19 de Agosto, fala de outros sinais similares, os do mundo do futebol.)

Mariasela

Até o nome é estranho. A primeira vez que ouvi falar dela estranhei. Cheirou-me a marketing barato. Depois ouvi-a numa soberba conversa que só o Loco de la Colina sabia fazer na TVE. E a coisa pareceu-me consistente. Perguntei a amigos meus e, sim, eles confirmam e sossegam a minha surpresa.
Mariasela Álvarez é cidadã da República Dominicana, é rica e bela. É uma mulher de sucesso. Foi Miss Mundo em 1982. Os pais eram professores universitários. Não viviam a fé, mas falavam dela e dos seus valores à filha. Frequentou alguns grupos juvenis católicos. Porém, na juventude ausentou-se da fé. Hoje é arquitecta e uma das apresentadoras da rádio e tv espanholas mais apreciadas. Mas o que aconteceu pelo meio para que aqui se fale dela? Converteu-se.
Um dia, em 2002, participou num retiro. Faltava-lhe algo. Sossego, paz, serenidade. Algo que a preenche-se. Queria algo firme e alegre, pois tinha, sem saber, a fé adormecida. E ela despertou. Não foi nada de muito extraordinário, nem caiu do cavalo como São Paulo. Despertou, simplesmente.
Nas entrevistas que concedia defendia sempre os valores humanistas, mas nunca se dizia cristã. Pudera, a fé dormitava! Pudera, tinha medo que a seguir a audiência não sintonizasse com o seu programa!
Um dia casou pelo civil. Passados anos o marido propôs que casassem pela Igreja. Antes quiseram fazer um retiro: três dias em silêncio e em isolamento total! Foi aí que se converteu e sentiu vergonha da sua ausência. Depois falou no seu programa da sua fé, deixou o coração falar. Simplesmente. Foi o programa mais visto.
Num congresso das televisões de inspiração cristã disse simplesmente: «Deus tinha-me dado tantos dons e eu nunca Lhe tinha dado nada, nem os tinha usado para Ele!»
É isso que faz de Marisela (e muitos outros!) tão especial: usa os seus dons para os devolver a Quem lhos deu!

Máxima

Depressa me dei conta de que a melhor forma de não desanimar e continuar a viver é esquecer o próprio sofrimento e pensar nos outros, (B. Marcel Callo, mártir do Nazismo)

Mínima

Tende os vossos olhos fixos em Jesus. (Heb 12:2)

[12 de Agosto de 2007]


Sem comentários: