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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Reformar as palavras


Às vezes nem temos palavras. Outras vezes é necessário levá-las à fonte e lavá-las. Para que digam o que disseram na vez primeira, quando foram criadas. E não digam todo o pó e roupagem que os séculos lhe colaram.
Por exemplo:
Em Julho de 1938 realizou-se em Berlim o congresso internacional dos editores. A guerra se sentia já no ar e o governo nazi revelava-se mestre na manipulação das palavras com fins de propaganda. No penúltimo dia, Goebbels, que era ministro de Propaganda do Terceiro Reich, convidou os congressistas à sala do Parlamento. E pediu aos delegados dos distintos países uma palavra de saudação. Quando chegou a vez de um editor sueco, este subiu ao estrado e com voz grave pronunciou estas palavras:
«Senhor Deus, devo pronunciar um discurso em alemão. Careço de vocabulário e de gramática, e sou um pobre homem perdido no meio dos homens. Não sei se a amizade é feminino ou se o ódio é masculino, ou se o horror, a lealdade e a paz são neutros. Assim que, Senhor Deus, recupera as palavras e deixa-nos nossa humanidade. Talvez consigamos compreender-nos e salvar-nos.»
Estourou um aplauso enorme, enquanto Goebbels, que havia percebido a alusão, saía furioso da sala.

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