Radical
O Padre Custódio Campos foi para Cabo
Verde quando Portugal ainda não conhecia a palavra stress. Quando para lá foi
há 47 anos!, como missionário, disseram que fora castigado. Ele nega. Foi por
gosto, com sentido de missão. Agora quem não quer regressar é ele. E só virá de
vez se for castigado! Mas o Padre Campos já não é um garoto da quarta classe...
Ficará por lá, estou certo.
Em 47 anos veio três vezes a Portugal, a
última foi em 1987! É um missionário itinerante e radical. Tem uma moto, uma
Yamaha Cross 125 cc, na qual percorreu vinte e dois mil quilómetros nos últimos
dois anos. A sua vida não pode ser uma vida chata, de certeza. Para quem gostar
de motos, claro. E não só...
É um homem de fé e de humor. Nos tempos
que correm a primeira implica o segundo. Não duvido que tenha fé, e humor tem
de certeza. Repare-se no que diz sobre o dia da sua morte: «costumo dizer que
quando morrer vou de mota para o cemitério, chego lá, tiro o capacete e digo ao
coveiro: — ‘agora tome conta da mota, que eu vou pelo meu pé’». E para quem se
questionar sobre a sua saúde mental remata dizendo: «temos de levar a vida com
optimismo». E a morte também, digo eu.
Pode não gostar-se do tom; por mim
aprecio a imparcialidade.
SIDA
No dia mundial contra a SIDA deste ano a
Igreja fez saber que não está alheia à Peste. Faz saber a quem não sabia... Eu
já sabia. Entre outras coisas, a Igreja não se encontra indiferente ao esforço
colectivo de avisar toda a gente que:
a)
Dada a gravidade da SIDA poder
vir a contagiar alguém é grave Responsabilidade Moral;
b)
A prevenção dos riscos da SIDA
é uma exigência de Dignidade da Sexualidade
e do Amor;
c)
Na Sociedade há excluídos, mas
não há excluídos no Projecto Amoroso de
Deus.
É verdade. A Igreja não está indiferente
por muito que (nos) queiram provar (e se queiram autoconvencer) que está.
Silvina
Palavras de João Paulo II na sua recente
visita pastoral à Ucrânia: «Hoje não é suficiente falar de Cristo. O grande
desafio dos cristãos é ajudar as pessoas a vê-lO. Dai ao povo a possibilidade
de ver o seu Salvador. Testemunhai com a vida e com as obras a presença do
Ressuscitado entre vós».
Irmã Silvina, não deixe apagar a vela
que apresentou ao altar no dia do seu jubileu de consagração religiosa.
Precisamos de luz que ilumine e esparse as sombras que ocultam a sua Presença.
Dalai Lama
Da passagem do Dalai Lama por Portugal
fica-me esta frase: «para que sejamos felizes é necessário que os outros também
estejam felizes». Deixo todas as peripécias para trás e guardo para sempre esta
frase como bandeira contra todos os egoismos, contra todos os ostracismos.
Fico-me a pensar (inspirando-me mais uma vez no Dalai Lama:) que eu nunca sou
individual porque integro o outro, os outros. Não sou isolado; acampanular-me é
um risco de morte.
Harry Potter
O mundo anda sério demais. Carregado
demais. Escuro demais. Quem, em algum momento, não precisou dum tempo e dum
espaço de evasão? De galgar as ameias que nos prendem à dureza e ao sufoco do
real? Não admira por isso que o cinema fantástico tenha sucesso. Dentre tanto
fumo e nevoeiro ou surge um arco-íris ou perdemos o norte. Não me estranha o
êxito do Harry Potter: três horas de ilusão compensam muitos dos sem-sentido da
vida do dia-a-dia.
Os avós deixaram de contar histórias, e
os pais ou não aprenderam a contá-las ou não têm tempo. E com isto se perde o
nosso património cultural. Salve-nos o cinema que ainda nos vai concedendo
pitadas de magia e evasão. A escala é global, não tem o sal próprio dos
regionalismos. Mas ao menos não nos falte o pão da magia que acrescenta e
multiplica mundos ao mundo.
O mundo anda sério demais. E mais sério
fico eu quando ouço dizer que a autora do Harry Potter viveu (e passou fome) em
Portugal, Vila Nova de Gaia. E ainda mais quando me confirmam que um editor
português recusou publicar a primeira aventura do Harry Potter. Talvez que se
nascesse português Harry nunca chegasse a ser global; afinal, a língua da magia
e do sonho é, nos tempos que correm, o inglês!
1’ de sabedoria
O amado foi visitar a amada. Quando
chegou junto da tenda bateu à porta. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou eu!
E fez-se um enorme silêncio após o qual,
triste, o amado regressou a casa.
No dia seguinte o amado regressou a casa
da amada. Ao chegar bateu e chamou. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou eu!
E fez-se um enorme silêncio após o qual,
triste, o amado regressou a casa.
No terceiro dia o amado foi de novo a
casa da amada. Ao chegar bateu e chamou. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou tu!
E foram felizes para sempre.
[5 de Dezembro de 2001]
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