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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Notas de Roda-pé



Radical
O Padre Custódio Campos foi para Cabo Verde quando Portugal ainda não conhecia a palavra stress. Quando para lá foi há 47 anos!, como missionário, disseram que fora castigado. Ele nega. Foi por gosto, com sentido de missão. Agora quem não quer regressar é ele. E só virá de vez se for castigado! Mas o Padre Campos já não é um garoto da quarta classe... Ficará por lá, estou certo.
Em 47 anos veio três vezes a Portugal, a última foi em 1987! É um missionário itinerante e radical. Tem uma moto, uma Yamaha Cross 125 cc, na qual percorreu vinte e dois mil quilómetros nos últimos dois anos. A sua vida não pode ser uma vida chata, de certeza. Para quem gostar de motos, claro. E não só...
É um homem de fé e de humor. Nos tempos que correm a primeira implica o segundo. Não duvido que tenha fé, e humor tem de certeza. Repare-se no que diz sobre o dia da sua morte: «costumo dizer que quando morrer vou de mota para o cemitério, chego lá, tiro o capacete e digo ao coveiro: — ‘agora tome conta da mota, que eu vou pelo meu pé’». E para quem se questionar sobre a sua saúde mental remata dizendo: «temos de levar a vida com optimismo». E a morte também, digo eu.
Pode não gostar-se do tom; por mim aprecio a imparcialidade.

SIDA
No dia mundial contra a SIDA deste ano a Igreja fez saber que não está alheia à Peste. Faz saber a quem não sabia... Eu já sabia. Entre outras coisas, a Igreja não se encontra indiferente ao esforço colectivo de avisar toda a gente que:
a)      Dada a gravidade da SIDA poder vir a contagiar alguém é grave Responsabilidade Moral;
b)      A prevenção dos riscos da SIDA é uma exigência de Dignidade da Sexualidade
e do Amor;
c)      Na Sociedade há excluídos, mas não há excluídos no Projecto Amoroso de
Deus.
É verdade. A Igreja não está indiferente por muito que (nos) queiram provar (e se queiram autoconvencer) que está.

Silvina
Palavras de João Paulo II na sua recente visita pastoral à Ucrânia: «Hoje não é suficiente falar de Cristo. O grande desafio dos cristãos é ajudar as pessoas a vê-lO. Dai ao povo a possibilidade de ver o seu Salvador. Testemunhai com a vida e com as obras a presença do Ressuscitado entre vós».
Irmã Silvina, não deixe apagar a vela que apresentou ao altar no dia do seu jubileu de consagração religiosa. Precisamos de luz que ilumine e esparse as sombras que ocultam a sua Presença.

Dalai Lama
Da passagem do Dalai Lama por Portugal fica-me esta frase: «para que sejamos felizes é necessário que os outros também estejam felizes». Deixo todas as peripécias para trás e guardo para sempre esta frase como bandeira contra todos os egoismos, contra todos os ostracismos. Fico-me a pensar (inspirando-me mais uma vez no Dalai Lama:) que eu nunca sou individual porque integro o outro, os outros. Não sou isolado; acampanular-me é um risco de morte.

Harry Potter
O mundo anda sério demais. Carregado demais. Escuro demais. Quem, em algum momento, não precisou dum tempo e dum espaço de evasão? De galgar as ameias que nos prendem à dureza e ao sufoco do real? Não admira por isso que o cinema fantástico tenha sucesso. Dentre tanto fumo e nevoeiro ou surge um arco-íris ou perdemos o norte. Não me estranha o êxito do Harry Potter: três horas de ilusão compensam muitos dos sem-sentido da vida do dia-a-dia.
Os avós deixaram de contar histórias, e os pais ou não aprenderam a contá-las ou não têm tempo. E com isto se perde o nosso património cultural. Salve-nos o cinema que ainda nos vai concedendo pitadas de magia e evasão. A escala é global, não tem o sal próprio dos regionalismos. Mas ao menos não nos falte o pão da magia que acrescenta e multiplica mundos ao mundo.
O mundo anda sério demais. E mais sério fico eu quando ouço dizer que a autora do Harry Potter viveu (e passou fome) em Portugal, Vila Nova de Gaia. E ainda mais quando me confirmam que um editor português recusou publicar a primeira aventura do Harry Potter. Talvez que se nascesse português Harry nunca chegasse a ser global; afinal, a língua da magia e do sonho é, nos tempos que correm, o inglês!


1’ de sabedoria
O amado foi visitar a amada. Quando chegou junto da tenda bateu à porta. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou eu!
E fez-se um enorme silêncio após o qual, triste, o amado regressou a casa.
No dia seguinte o amado regressou a casa da amada. Ao chegar bateu e chamou. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou eu!
E fez-se um enorme silêncio após o qual, triste, o amado regressou a casa.
No terceiro dia o amado foi de novo a casa da amada. Ao chegar bateu e chamou. A amada perguntou: — Quem é?
O amado respondeu: — sou tu!
E foram felizes para sempre.

[5 de Dezembro de 2001]

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