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terça-feira, 9 de abril de 2013

Notas de Roda-pé



Arley
Arley era jovem e tinha sonhos. Mas trucidaram-lhe os sonhos de jovem. Tinha 30 anos e de nome completo Arley Arias García. Era sacerdote, colombiano, e foi assassinado numa emboscada. Em Maio de 1999 a guerrilha queimou-lhe a igreja paroquial e Arley voltou a construí-la. No dia 22 de Novembro do ano passado uns desconhecidos assassinaram-lhe um irmão. Mas nem assim Arley, o P. Arley, abandonou o sonho de ver o seu país pacificado, e por isso se preocupava em ser ponte de paz. Várias vezes, com sucesso, junto da guerrilha, tinha solucionado vários sequestros. Até que chegou a sua hora de ser mártir. E foi. Testemunhou com a vida o amor ao seu povo, à Igreja e a Deus.
Na Alocução do Angelus de 3 de Fevereiro, como se falasse do P. Arley, dizia o Papa: «Os mártires não desprezam a vida. Permanecem, isso sim, fiéis ao Deus da vida e aos seus mandamentos e aceitam o martírio».

Eleições
Saídos de umas aí vamos nós para outras eleições. É interessante verificar como alguns dos nossos políticos usam carimbos que não autenticam nada. À luz da doutrina social da Igreja Católica aí vão dez princípios que o Papa tem proclamado no sentido de orientar os políticos (sobretudo, os cristãos):
1. Servir a sociedade procurando o bem comum e promovendo a participação solidária de todos.
2. Viver e trabalhar em coerência com os princípios cristãos que o inspiram.
3. Fundamentar a sua actuação na inalienável dignidade da pessoa humana.
4. Interpretar a justiça de acordo com a doutrina social da Igreja, conforme o seu leal entendimento.
5. Promover a justiça e a igualdade de oportunidades para todos, em especial para os mais necessitados ou desfavorecidos.
6. Cuidar que a lei positiva se enraíze na lei natural.
7. Defender a cultura e a vida, de modo especial, em relação aos mais indefesos: os não nascidos, crianças, idosos e doentes terminais.
8. Defender a família como célula básica da sociedade e como escola de valores.
9. Promover o diálogo, longe dos afrontamentos.
10. Submeteras leis do mercado à justiça e à solidariedade.

Assis
Em Assis o Papa reuniu as religiões do mundo. Fê-lo mais uma vez num tempo em que já ninguém esconde o enorme esforço para remeter a religião para trás da cortina. No palco vê-se de tudo menos religião. Porém, quanto mais se remete para trás do cenário mais a religião vem para boca de cena. Assis é sinal disso. O 11 de Setembro também. O que antes remeteram para o oculto e o privado veio para a rua e para a luz do dia! Existem dois trabalhos muito comuns na sociedade actual. O primeiro, como fica dito, trata de ocultar a religião. O segundo é lançar poeira aos olhos. E já que vamos para eleições aí vai o desafio do esclarecimento. Porque não nos dizem os senhores políticos o que pensam fazer à Lei da Liberdade Religiosa? E à Concordata? E às Instituições de Solidariedade Social? E à presença das Igrejas nas escolas e nos meios de comunicação social? E já agora, as religiões são espinhos na sociedade ou parceiros de diálogo?
Que o Estado seja laico e não se deixe manipular. Mas que quem nos governe reconheça a nossa matriz cultural, a nossa história, as nossas referências religiosas. Não defendam a (nossa) fé, clarifiquem as vossas opções. Digam o que entendem por direitos, deveres e privilégios. E nem importa que coloquem o assunto religião na gaveta, mas depois não se aproveitem dos nossos recursos e potencialidades sociais renunciando às responsabilidades próprias.

Milagres
D. Fernando Mascarenhas, marquês de Fronteira, desafiou a Comunidade de Leitores a ler e debater um livro policial. Começaram a falar de detectives e personagens suspeitas e acabaram a falar da Bíblia. Alguém disse: «à parte os milagres, a Bíblia podia passar-se hoje».
Devo esclarecer que tanto quanto percebo a Bíblia passa-se ainda hoje, até nos milagres. A verdade é que aquilo que se passa na Bíblia é o grande diálogo de salvação entre Deus e Humanidade. E aí está o milagre: Deus faz-se entender e amar pelo coração humano! Inclinou-se sobre a Humanidade para a elevar até junto do seu coração! Querem maior milagre? Que Deus me desafie todos os dias a saltar para os seus braços não é isso um grande milagre? Serão precisos mais milagres?

Quaresma
Começou a Quaresma. Repete-se à comunidade cristã o convite oficial para renovar a sua cordial adesão ao projecto de Jesus. O Povo  de Israel nasceu na quaresma do deserto. Por isso, todos os anos peregrinamos ao deserto onde nada há — ou melhor onde só há Deus! — para renovarmos as raízes. Foi no deserto que Deus educou o seu povo, ali lhe provou o seu amor de pai e lhe falou ao coração. «Desejo convidar todos os crentes, diz o Papa, a uma ardente e confiada oração ao Senhor, para que conceda fazer a cada um uma renovada experiência do seu amor». Boa Quaresma...


1’ de sabedoria
O mestre perguntou aos seus discípulos:
-- o que é mais importante, a sabedoria ou a acção?
Os discípulos responderam todos juntos:
-- A acção, naturalmente! De que vale a sabedoria que não se concretiza em acção?
E o mestre retorquiu:
-- E de que vale a acção que não nasce dum coração iluminado?

[12 Fevereiro de 2002]

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