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terça-feira, 3 de julho de 2007

Duas pessoas

Eu não conheço Beth Ditto. Em boa verdade nunca me foi apresentada, como diria o outro. É cantora. Creio que as canções que canta não frequentam a rádio por onde por vezes me perco. E defende valores que não são os meus, com os quais eu não sintonizo. É por isso que conhecê-la ou não (ou à sua música) me é igual. O mesmo será para ela.
Mas, pronto. A imprensa fala dela e eu sei que a senhora existe, que é uma mulher ácida, que, dir-se-ia, é daquelas que morde a mão que lhe dá o pão. É isso. É uma mulher tão crítica que não se inibe de criticar o seu público, aquele que lhe compra os discos e vai aos seus concertos. Ela é uma mulher que sabe quem é (e sempre o soube). Ela não muda, o mundo à sua volta é que muda ou tem de mudar. Por isso quando actua em concertos está tão segura de si que não se preocupem que não gostem da sua música e da sua performance. É descarada a mulher: «Não me incomoda assim tanto que as pessoas pareçam entediadas. Toco para as duas pessoas na multidão que estão a divertir-se e a prestar atenção.»
Ora aí está uma mulher de convicções. Se houver duas pessoas que gostem, ela canta para elas. O resto se a desprezar, será desprezado por ela.
Viremos isto como me convém. Pergunto-me quantos de nós, na nossa banda, temos disponibilidade e carinho pelo nosso público para tocar para esses dois que permanecem atentos. Confesso que desanimo face ao tédio, ao desinteresse, à falta de garra dos meus públicos. E em boa verdade, costume ter mais que dois ou três animados e interessados.
Se alguma vez Miss Ditto me for apresentada eu vou agradecer-lhe esta lição de vida. Afinal de contas eu tenho melhor mensagem que a dela, mas por vezes não tenho a garra e o convencimento dela.

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