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sexta-feira, 23 de março de 2007

Meninos

Dizem os jornais que o Daniel Carvalho, a Catarina, a Vanessa, a Fátima L., a Joana, o Yuri e a Angelina e agora a Sara morreram. As características comuns a estas mortes são o tratar-se de crianças de tenra idade, desprotegidas e em famílias de risco. As suas mortes foram cruéis. Foram vítimas de maus tratos. Maus tratos, não. Simplesmente sem tratos, porque as crianças ou se cuidam como é seu direito, isto é, ou as cuidamos, acarinhamos, acalentamos e lhes espantamos medos, fantasmas e frios, ou tudo o resto não é trato nenhum. É tortura. Tortura em país civilizado, crescido, adulto, higiénico, laico, europeu e do século vinte e um!
Vejo mais uma vez as suas caritas no Correio da Manhã. São caras reguilas, irrequietas, inquiridoras. São caras de crianças, enfim. A Joana, de oito anos, faz lembrar uma mulherzinha. Uma mulherzinha por antecipação, daquelas que se ocupam da casa, da mãe, dos seus desvarios, do deve e haver da família, do futuro, e até do porvir truncado. Ao que dizem e talvez seja o mais certo, jaz agora na barriga dum porco! Meu Deus, que horrível! Ela que costumava ocupar-se das comidas da família foi comida por quem nasceu para ser sua refeição!
Como tão facilmente as coisas se transtrocam!
É por isso que eu vou pela rua, às vezes devagarinho, a rezar. Vejo meninos pela mão e nos carrinhos e nem sempre aconchegados pelo melhor dos carinhos. Vou por ali, vou por acolá. E vejo meninos e vejo futuros, vejo doutores, presidentes e calceteiros. E talvez alguns não cheguem muito além. E talvez alguns morram não sei onde. E talvez a barbárie imponha a sua lei crua e morra mais algum indignamente. Olho, vejo. Há meninos que nos sorriem, que nos espevitam as janelas da esperança como semáforos verdes que nos convidam a passar. E eu pergunto interrogando-me: qual será o próximo que morre? Qual é o próximo a acabar na barriga dum porco, ou pior?
É por isso que quando me cruzo com eles, mais que com as suas mães, pais ou avós, eu me dirijo a eles. Penso neles, olho-os se possível. E rezo por eles, abençoo-os. Sim. Talvez aquele menino ou menina seja muçulmano, árabe, ateu ou agnóstico. (Sim, que cada um começa por ser o que os seus pais forem.) Talvez não seja nada daquilo que eu sou e acredito. Mas é um menino, é uma menina. Uma criança, o futuro. E então eu os abençoo em nome do Menino Jesus de Praga e lhos consagro e ofereço. São dele. Ninguém mo pode impedir. Abençoo-os todos no meu olhar, na minha oração silenciosa. Todos os meninos que eu vejo eu Lhos dou, em seu Nome os abençoo. Eu lhes dou Salvação. Eu lhes dou Jesus em forma de benção, a fim de que porco algum lhes faça mal.

Amen.

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