Guerra
Para além do senhor Bush há mais quem
acredite na guerra ao Iraque. É o que me dizem, é o que leio.
Quando as bombas americanas caírem em Bagdade a vida de um amigo meu
estará em risco. Chama-se Jean Sleiman e é o bispo Bagdade. O
Iraque tem 270.000 católicos e Jean Sleiman é o seu bispo.
Eu não sei o que fará o bispo Sleiman,
mas não é apanágio dos pastores fugir ao rebanho quando ele é
fustigado. E por isso creio que Jean não fugirá. Há-de ficar ali
naquela terra mártir que é a sua, que os americanos parecem odiar e
cujo petróleo cobiçam. No olhar do bispo Sleiman espraiam-se dois
lagos de paz. Eu sei porque já os vi. Por isso o bispo Jean não
fugirá do meio daquele povo mártir.
Nunca nenhuma guerra é da vontade de
Deus que aposta sempre pela reconciliação, pelo perdão e
concórdia. Jean Sleiman, estou certo, ora pela paz, e, se dependesse
dele, não haveria guerra porque recorreria a todos os meios para a
evitar.
Dizem que a guerra vem aí, que a data
já está marcada. Eu e o meu amigo Sleiman rezamos pela paz porque o
americano e o iraquiano e todos os que se preparam para a guerra –
para atacar ou se defender – são irmãos e filhos de Deus.
Eu rezo pela paz e só peço a Deus –
como diz a canção – que o futuro (nem o presente) não me seja
indiferente.
Transmissível
A rubrica Pessoal e Transmissível, da TSF, tem
tudo de público e nada de reservado ou confidencial. Numa das
últimas ouvi parte do testemunho de Douglas Scope cujo lema de vida
é «A vida é para viver».
Desde o tremor de terra de 1985, na cidade do
México, Douglas Scope já rastejou centenas de vezes (894!) por
escombros de edifícios em busca de vida. Nos desastres em que
participou já morreram mais de 600.000 pessoas, mas Douglas roubou
algumas das garras da morte.
A catástrofe é o meio ambiente de Douglas. Ali é
que ele se sente bem, porque é ali que ele realiza melhor a missão
a que se sentiu chamado em 1985: salvar vidas! Para si o importante
nem é viver a vida, mas fazer o bem na fracção de tempo que lhe
foi dado viver. Salvar pessoas é uma experiência religiosa, diz.
Ali toca-se as fímbrias da solidariedade e omnipotência divinas,
ali se celebra a páscoa que resgata a vida à morte.
Desde que rasteja por entre escombros de prédios
Douglas já viu de tudo. E o que mais o toca é que nunca deixou de
ver a Deus. Ali em baixo, ali onde mais ninguém ousa entrar, ali no
escuro e na destruição é que ele vê Deus. Costuma dizer que «no
covil do lobo não existem ateus», quer dizer, as experiências
limite de Douglas Scope mostraram-lhe Deus real e o encontro de
muitos com Deus. Mesmo aqueles que sempre admitiram nunca o (vir a)
encontrar.
Depois de ruírem as seguranças humanas a quem
recorreremos para que nos espante o escuro da noite e da morte, os
fantasmas do desespero e da loucura; a quem pediremos que nos acenda
a chama da esperança? Douglas Scope diz que a Deus.
A vida é para viver, para salvar, para se salvar
de a perder pelo encontro com Deus. E tanta gente que não vive!...
Europa
Está em preparação a futura Carta da
Europa, uma espécie de Constituição da União. Uma coisa assim
exige muito estudo, muita colaboração e reflexão dos homens bons.
De ambos os lados, de todos os lados. O assunto passou rapidamente
pelos jornais e pelos écrans. Assim como veio, assim foi. Deve ser
coisa de políticos – pensou-se e desleixou-se... –, e deixou-se
ficar a coisa para os políticos.
Gerou-se, porém, um pequeno debate.
Melhor, falou-se da pele de galinha gerada pela notícia segundo a
qual, a futura Carta, deveria conter ou não uma referência às
raízes cristãs da Europa. Já se vê que não é assunto para
consensos. Uns que sim, outros que não. E a maioria chutou para
canto ou passou ao lado. Uns argumentam que os americanos colocaram
Deus na Constituição, e os outros responderam que O retiraram da
vida. E se os americanos colocaram..., mas os americanos são também
fonte de muitos erros. E é verdade.
O Caminho não é por aí. Não temos
por que imitar ninguém. Mas a haver uma Carta da Europa por que não
incluir nela Deus? Não precisa de parecer lá nenhum capítulo da
Bíblia. Mas não é despropositado reconhecer que a união da Europa
não é só económica ou política, e que nos unem – mesmo antes
da economia e da política! – laços espirituais. Deve a futura
Constituição europeia reconhecer os comuns fundamentos e raízes
cristãs? Claro que sim. Não está em questão restaurar a
Cristandade, trata-se apenas de reconhecer que uma árvore sem raízes
morre, morre depressa.
Crime
No HermanSic de 8 de Dezembro – tal como já o
fizera em telejornais passados – Carlos Cruz foi lavar-se para a
televisão. Com todo o respeito digo que foi lavar-se. Carlos Cruz
fora lançado à fogueira e ao enxovalho do diz-que-disse. E do meio
da fogueira, cheio de lama, lamentou-se: «Eu não moralizo, também
tenho os meus pecadilhos. Mas agora onde me vou refugiar. Eu não sou
católico; a justiça falhou e a Igreja tem os seus casos...». Ó
senhor Carlos Cruz, pois tem. Mas em vez de ir a um programa de
televisão (mais eficaz, claro!) poderia ter ido a uma igreja. Olhe
que as igrejas ainda são bons refúgios. Não duvide que são. E
rematava: «Já não há ideias. Não há guias. Não há
condutores». Não quero crer, mas olhe que quase concordo consigo:
parecemos à deriva. E talvez tenha sido ela que provocou o seu
assassinato mediático. Mas de quem é a culpa? Da Igreja ou da
televisão?
Compreendo a sua preocupação em deixar um
património moral e de bom nome às suas filhas. Quer entregar-lhes
valores, projectos, crença no futuro. Mas também lhe entregará os
seus pecadilhos, já reparou? Não se orgulhe deles, nem os lamente.
São o que são. Também são património, são herança. Fôssemos
todos homens bons, sem pecadilhos e casos e não existiram coisas
como o mega-escândalo da Casa Pia!
(Estas notas foram escritas nos dias seguintes às
primeiras denúncias públicas que atingiram o locutor Carlos Cruz.
Entretanto, Carlos Cruz foi preso preventivamente na semana passada.
Nada está provado, nada está julgado. E enquanto não for julgado e
sentenciado como culpado Carlos Cruz é apenas réu. E como tal
continua a ter direito ao seu bom nome. Até que se prove, se algo
houver a provar, o contrário. E como qualquer réu é digno de
presunção de inocência até que a sentença transite em julgado.)
1’ de sabedoria
O Mestre nunca se mostrava impressionado com o
exibir de doutoramentos, mestrados e diplomas e mais diplomas...
Simplesmente estudava as pessoas e não os seus diplomas. Por isso,
um dia, alguém o ouviu dizer: «Se você tem ouvidos para ouvir o
canto dum passarinho não precisa de lhe perguntar qual as suas
credenciais, os mestres e a escola de música que ele frequentou»!
[8 de Fevereiro de 2003]
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