Testemunho
Francisco nasceu no Vietame. Escolheu ser padre e
aos 47 anos era bispo. Pouco depois foi preso e encarcerado na prisão
de Cay-Vong, sob a acusação de fazer parte do Vaticano.
Passou treze anos na cadeia, dos quais nove
completamente isolado e vigiado por dois guardas. Suportou a
tribulação, diz, graças à oração da Igreja que o julgava morto.
À porta colocaram-lhe um altifalante voltado par ao interior da
cela. Das cinco e meia da manhã às onze e meia da noite o
altifalante vomitava-lhe a doutrina marxista.
Era um bispo jovem, isolado e com ânsias de
apostolado. Que fazer? Havia na prisão um menino de cinco anos.
Cuang era cristão e o bispo recomendou-lhe que dissesse à mãe para
lhe comprar ‘calendários velhos’ que lhe chegaram nesse dia à
noite envoltos em escuridão. E durante dois meses o bispo Van Thuân
escreveu aos seus fiéis mensagens que eles copiavam das folhas do
menino e depois distribuíam. Mais tarde obteve licença para
escrever mais livremente e receber um remédio para o estomâgo.
Passou a receber de quando em vez um ‘remédio estomacal’ que
mais não era senão vinho! Pouco depois chegou-lhe outro ‘remédio’,
hóstias! O bispo já podia celebrar eucaristia!
Às 21h30 todos eram obrigados a
dormir. Lado a lado consigo, numa esteira de meio metro de largura,
conseguiu que dormissem cinco cristãos. Então, enquanto os outros
dormiam os cristãos celebravam a Eucaristia. O bispo vertia três
gotas de vinho na mão e uma de água, e sobre o peito colocava as
hóstias! Depois rezava a missa que sabia de cor! Seguidamente metia
as hóstias em saquinhos feitos a partir de mortalhas de cigarro, e
quando na manhã seguinte era obrigado a participar na catequese
marxista aí mesmo distribuía Jesus.
O bispo perdera a sua diocese, mas na
diáspora da prisão ganhou uma comunidade. E embora privado da
liberdade seguia pastor de espíritos em peregrinação de santidade.
Por que Jesus não esquece nem olvida jamais alguma das suas ovelhas!
Menino
Contaram-me que a televisão também dá
boas novas. Algures uma médica pediatra reformou-se. E fizeram-lhe
uma festa de despedida. Imagino que mamás jovens e menos jovens,
filhos e netos foram à festa. Melhor, imagino terem sido elas e eles
que lhe ofereceram a festa. Conta quem viu que lhe ofereceram
presentes.
Por vezes, quem mostra não mostra a
festa toda, por isso quem viu conta que viu que lhe ofereceram uma
imagenzinha do Divino Menino Jesus de Praga. E eu acho que essa é
uma prenda linda que no mínimo diz três coisas: diz que aquela é
uma gente agradecida e que mostra em gestos o bem e atenção que
recebeu; e diz que aquela é uma gente sábia, porque que prenda
melhor se pode oferecer a uma mulher que cuida dos nossos meninos
senão um Menino Jesus? E diz ainda que aquele povo sabe bem que Deus
também cuida de nós. Isto é, quando doentes socorremo-nos da
sabedoria e inteligência dos médicos para nos curarmos ou nos curar
os nossos filhos, e quando meninos precisamos dum mestre que nos
ajude a crescer. E que melhor mestre que o Menino-Mestre? Para o bem
do povo concorrem sempre os homens (técnicos, profissionais,
mestres...) que servem, e Deus que é fonte de todo o bem e graça
que nos ilumina, agracia e santifica. A eles e a nós.
Aquele povo soube ser agradecido à sua
pediatra, e agradeceu pagando a dívida de gratidão com a imagem
dAquele de quem tudo vem. Por ela Ele se manifestou como fonte de
vida, graça e saúde; pelas mãos agradecidas do povo Ele se revelou
a ela como gratidão e reconhecimento. Por que, de facto, dEle tudo
de bom vem.
Jean
Eu previra bem não porque o conheça
bem, mas porque vá conhecendo o labirinto do coração do pastor
bom. Eu previra que se a guerra começasse no Iraque (e sempre
julguei possível, e ainda mais desejável que não começasse) o
bispo de Bagdade, Jean Sleiman, não fugiria nem deixaria o rebanho
para trás. E não deixou. Ficou onde ficou o rebanho e deixou-se
fustigar pelos ventos e chuvas de bombas, e-bombas, mísseis...
No caos sem nome que a guerra sempre
provoca não sei que muito mais um bispo possa fazer além de rezar.
E Jean rezou. E abriu as igrejas para que as pessoas nelas se
pudessem refugiar durante os bombardeamentos.
Pelo menos, julgo, duas vezes falou aos
jornalistas. Duma vez testemunhou que «a cidade está morta» e que
a habita «um silêncio artificial»; e enviou uma mensagem «Quero
dizer ao presidente George W. Bush que a guerra também prejudica
quem a vence, e que a única vitória possível é a paz». E da
outra vez disse aos jornalistas que escrevessem e dissessem ao mundo
que rezássemos pela paz. Rezemos, pois. E que o único triunfo seja
o da paz.
Florida
O bispo de da Florida, EUA, chama-se D.
Robert Bowan e escreveu uma carta ao Presidente Bush. O bispo Robert
é tenente-coronel e ex-combatente do Vietname. Aí integrou 101
missões de combate. Na qualidade de bispo, perito de segurança e
ex-combatente escreveu ao seu Presidente. A carta denuncia, a seu
parecer, a hipocrisia dos EUA que se hoje são odiados ontem foram
semeadores de morte e tirania. E se o foram por que não haveriam os
povos de se vingar aterrorizando quem lhes decepou os sonhos? E se a
raiz do terror é essa porque não arrancá-la, não com bombas mas
promovendo a paz e semeando o progresso? Porque não vão os jovens
americanos, pergunta o bispo, erguer escolas e semear campos para o
Iraque em vez de inquinar e hipotecar o seu futuro por muitas
gerações? Porque não vão reconstruir e erguer em vez de destruir
e devastar? «Resumindo, diz o bispo, deveríamos ser bons em vez de
sermos maus. E sendo bons a quem interessaria que fôssemos maus e
não promovêssemos o bem?».
Como perito militar o bispo Robert
costuma dar conferências sobre segurança nacional. «Sempre cito
aos meus ouvintes o Salmo 33, que diz:
A vitória do rei não está no seu
exército
Nem o guerreiro se salva pela sua
força.»
Então, a assistência costuma
perguntar-lhe: «Que podemos fazer para assegurarmos a nossa
segurança».
Resposta do bispo-perito militar:
«saber a verdade!».
Será possível sabê-la? E que é a
verdade?
É uma pergunta nunca respondida, acho
eu...
Paz
Um grupo de artistas moçambicanos
ofereceu ao papa João Paulo II uma cadeira. Era um cadeira original,
construída com armas desactivadas. Quiseram desta maneira agradecer
ao Papa o seu contributo pessoal para dez anos de paz em Moçambique.
Como o Papa é um homem de humor gostava
mesmo de ver a sua cara quando se sentar na dita cadeira. E bem sei
quem precisava de ali se sentar...
É caso para dizer: Mais gente se
sentasse para pensar na paz, mais gente tinha horror à guerra!
1’ de sabedoria
O mestre disse a um discípulo que
passava a vida a queixar-se dos outros:
– Se você deseja a paz procure
mudar-se a si mesmo e não mudar os outros. É mais fácil arranjar
um par de sapatos que estender um tapete sobre todos os caminhos.
[9 de Abril de 2003]
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