Férias
Férias são férias. Na praia a trabalhar para o bronze vou
entabulando um diálogo a meias com o mar e um livro sobre o invisível. Perdido
das horas ouço um sino. Não fui o único. Desde algures, o sino que se fez ouvir
na praia sustém as guerrilhas de três garotos transmutados em cóbois
intergaláticos e impõe um armistício sem condições. Correm para a mãe e
perguntam-lhe por que toca o sino. Muda a mãe, responde a avó: «são as
Trindades, filhos». E lá fica a velhinha embrulhada em memórias catequizando os
netos.
É isso. As férias supõem também tempo para Deus, para a
pausa e a interrogação. Corre-se um ano inteiro, mas as férias dão-nos tempo
para irmos a uma capela, para peregrinarmos ao santuário interior da nossa
consciência, e até para ouvirmos um sino e construirmos a paz. São tempo para
encontrarmos Deus na natureza e nas suas criaturas, para o silêncio e a
leitura, para a família e o diálogo, para o convívio e o estar com Deus.
Missão
Como evangelizar hoje na cidade? É a pergunta a que procuram responder os Congressos Internacionais sobre a Nova Evangelização. Em Viena experimentaram-se respostas e provaram-se testemunhos. Ou como alguém disse, partilhar a Missão e fazer a Missão.Vivemos um tempo plural, com muitas periferias e margens. E na Igreja falta muito a consciência que fora das sacristias e dos altares há muita gente à nossa espera! Como responder às perguntas dessa gente de boa vontade, mas que não vem à igreja? Ora bem, se essa multidão de gente não vem à igreja nem identifica o “produto” da Igreja, que fazer? É fácil, vá a Igreja para fora da igreja! E foi. Pelo menos no Congresso. Na rua os congressistas abordaram as pessoas e falaram daquilo que as (co)move: Jesus! No ponto alto do Congresso — ou num dos mais altos — o P. Guy Gilbert narrava histórias de delinquentes juvenis com quem trabalha em Paris. A meio da conversa virou-se para o findo da plateia e diz: — «Cristovão (o bispo de Viena), vem aqui». E o bispo foi. O contraste era grande. Guy usa cabelo grande, casaco de couro e calças de ganga coçadas. Cristovão é um cardeal tal qual o imaginamos. E o Padre rematou: — «não temos o mesmo visual, mas somos a mesma Igreja!». E a catedral quase veio abaixo com os aplausos. Como evangelizar hoje na cidade? Em Viena coexistiram a ganga e as vestes dos dignitários; os franciscanos do Bronx cantando rap e os padres com cabeção; os órgãos de tubos e as violas e batuques; o latim e o vernáculo; o gregoriano e gospel. Como evangelizar hoje na cidade? «Não sabemos, disse o Bispo Auxiliar de Paris, mas sabemos que o temos de fazer».
100ª
O Papa acaba de realizar a sua centésima
viagem apostólica fora de Itália, à Croácia. Bem, na verdade já realizou a
centésima primeira (recentemente a Espanha), e prepara-se para a 102º! Notável.
É o Papa mais peregrino da história. Visitou 129 países, alguns várias vezes.
Esteve em 614 locais, pronunciou 2399 discursos, passou mais de ano e meio em
viagens, percorreu um milhão cento e sessenta mil quilómetros, isto é, deu onze
vezes a volta ao mundo!
No dia da sua eleição o Papa sentiu o
apelo de Jesus: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as
criaturas». É isso que João Paulo II tem feito. Imitando a Pedro tem ido até
onde as forças o levam para dizer a cada homem e a cada mulher que Deus o ama,
que a Igreja o ama, que não tenha medo!
No México diante de milhões de Católicos
ou no Arzebeijão com os 120 existentes, o Papa celebrou missa com a mesma
intensidade de peregrino incansável. Por uns e por outros gasta a sua vida e
esgota as suas forças até ao fim, por que é urgente dizer a todos os irmãos:
«não tenhais medo. Abri as portas a Cristo».
Qual é a eficácia de tantas viagens,
vigílias, missas e discursos? Não sabemos, e o Papa parece não se preocupar com
isso. Basta-lhe semear.
Jubileu
Brevemente, a 16 de Outubro, ocorrerá o 25º aniversário da eleição de João Paulo II. Eis é um dos mais longos pontificados da história do cristianismo! Nesse dia reunir-se-ão em Roma todos os Cardeais da Igreja, para celebrar em júbilo uma data histórica que a todos nos alegra. João Paulo II é sem dúvida um saboroso dom do Espírito Santo à sua Igreja. Inovador e fiel, encorajador e leal, corajoso e resistente, orante e intrépido, contemplativo e peregrino! Um Papa assim merece bem o epíteto de «Pastor das multidões» e o nosso gozoso júbilo.
1’ de sabedoria
Um dia chegou um visitante e apresentou-se
diante do Mestre. Era, disse-lhe, um homem à procura da verdade. O Mestre
respondeu-lhe:
— Se de facto, é a verdade que procura, há
uma coisa que na vida você deve ter...
— Eu sei, disse o homem, uma paixão inultrapassável pela
verdade que procuro.
— Não, respondeu o Mestre. Deve ter uma prontidão lúcida e
atenta para admitir que pode cometer erros.
[30 de Julho de 2003]
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