Sinais
Há sinais e sinais. Para tudo são
precisos. Não passamos sem eles. Dos caminhos às igrejas; dos bancos das
escolas aos hospitais; do mundo do campo à indústria e às universidades. Eles
estão presentes, falam-nos, orientam, informam, movem, comovem. Às vezes são
discretos, outros nem por isso. Aqui vão alguns que eu vi recentemente.
Por
estes dias ou os olhos se me abriram mais ou vi o que não costumo ver. Na
verdade, fiz mais quilómetros que os que costumo fazer. E talvez por isso vi
mais. Que sinais vi eu para que aqui fale deles?
Vi uma
grande faixa atravessada dum lado a outro duma estrada anunciando e promovendo
um encontro paroquial numa praia. Não me espantaria nada nem dela aqui falaria
se a faixa falasse e anunciasse outras coisas. Mas arregimentava para um
convívio paroquial. Numa estrada onde passam paroquianos de outras paróquias e
nem todas católicas. Ora, perguntei-me eu e sigo perguntando-me, os convívios
paroquiais anunciam-se a todos ou também ao estranhos? Anunciam-se aos de
dentro — uma paróquia por muito aberta que seja é sempre um círculo fechado! —
ou a todos? Bem, eu compreendo que algumas ovelhas vivam mais ou menos
desgarradas, e que por força da lei do desgarro possam não ouvir a voz do
pastor quando ele fala para o redil. Posso compreender o dinamismo da comissão
organizadora querendo apelar a que ninguém falte. Posso também compreender que
se convoquem aqueles que não são Igreja. Mas aquele acto de família paroquial
não pode ser para mim. Ou para outros que como eu leram a mensagem. Poderá?
Será que eu poderei aparecer na praia da Apúlia no dia certo? São sinais.
Apenas sinais. É pelo menos sinal de que nem tudo se vive dentro da igreja.
Seguindo viagem vi mais à frente,
já noutra cidade — e depois também na minha —, muitas bandeiras portuguesas.
Ainda vi uma rua cheia delas. Estavam todas amarelecidas, debotadas, desfiadas,
rasgadas. Mas que feio, pensei! Então o povo que ergueu a Bandeira porque o
Seleccionador pediu, não terá agora vergonha de exibir o símbolo nacional tão
degradado e deprimente. Eu sei que é um sinal. Apenas um sinal. Mas seria
escusado proclamarmos tão declaradamente a proverbial depressão nacional. Ou só
nos animamos quando há futebol? Ou as únicas grandes causas que nos movem são o
futebol e... mais nenhuma? Ou não estamos nada deprimidos e queremos é
enganá-los e por isso deixamos lá fora a Bandeira num falso esquecimento? Mas
poderá ela perder assim o seu brilho? Poderemos nós ter tão pouco orgulho
nacional ao ponto de não sabermos erguer a nossa Bandeira?
Será?
Não sei. Mas que é um sinal, é. E de desprestígio.
E vi outro sinal. Já não é a
primeira vez que saindo da auto-estrada me deparo em certo viaduto com uma
inscrição: Jesus é o Senhor! E agora digo eu: é sim senhor! Não sei quem é o
autor da façanha. Mas sei que o Senhor foi recentemente avivado com um amarelo
forte, para não deixar dúvidas a ninguém. A mim não deixou. Quem quer que por
ali passe — e passam muitos — e saiba português ou não vá a falar ao telemóvel,
leva com a mensagem nos olhos: Jesus é o Senhor.
Estamos em tempos onde tudo o que
cheire a religião é varrido para debaixo do tapete. Isto, porém, ainda não
conseguiram. Parece-me acontecer aqui aquela história da manta curta, que para
cobrir os ombros descobre os pés. Isto é, quanto mais remetem a religião para a
Sacristia, mais ela estala noutros lugares bem visíveis e inesperados.
Escondem-na no recato e ela manifesta-se por cima dos telhados. Resguardam-na
em armazéns (ou museus) e ela desponta fresca e à janela.
Pode ser
até que quem ali gritou, isto é, ali escreveu, não afirme a fé publicamente.
Pode ser. Pode ser que prefira ficar anónimo, que não seja uma testemunha
valente. Mas algo passou em alguém que teve necessidade de nos mostrar naquilo
que acredita.
Um jornal diário fala da abertura
duma esplanada no Porto. Traz um fotografia a ilustrar. E é tão bem tirada a
foto que até traz um teatro onde decorre uma peça sobre Jesus Cristo. A peça
está anunciada na frontaria e o nome, Jesus Cristo, aparece ali bem exibido.
Não sei o que levou a reanimar tal musical sobre Jesus quarenta anos depois
dele ter sido um êxito mundial. Sei sim, mais uma vez, que se não O procuramos
nas igrejas, Ele surpreende-nos nas praças, nos teatros e nas esplanadas. Se
não Lhe cantamos nos templos e santuários, Ele aparece a cantar nos palcos. Se
não O saudamos nos sacrários, Ele faz-nos vénias desde o palco sugerindo-nos as
palmas.
É assim. São quase tudo sinais
imprevistos. Sinais que talvez não
devessem aparecer. Sinais que outros desejariam obnubilados ou pelo menos discretos, e que, afinal, nos aparecem por
cima dos telhados e nos assaltam as vistas e os olhos.
São sinais, simplesmente sinais,
senhores.
(O Padre Rui Osório, no JN de hoje,
Domingo, 19 de Agosto, fala de outros sinais similares, os do mundo do
futebol.)
Mariasela
Até o nome é estranho. A primeira
vez que ouvi falar dela estranhei. Cheirou-me a marketing barato. Depois ouvi-a
numa soberba conversa que só o Loco de la Colina sabia fazer na TVE. E a
coisa pareceu-me consistente. Perguntei a amigos meus e, sim, eles confirmam e
sossegam a minha surpresa.
Mariasela Álvarez é cidadã da
República Dominicana, é rica e bela. É uma mulher de sucesso. Foi Miss Mundo em
1982. Os pais eram professores universitários. Não viviam a fé, mas falavam
dela e dos seus valores à filha. Frequentou alguns grupos juvenis católicos.
Porém, na juventude ausentou-se da fé. Hoje é arquitecta e uma das
apresentadoras da rádio e tv espanholas mais apreciadas. Mas o que aconteceu
pelo meio para que aqui se fale dela? Converteu-se.
Um dia, em 2002, participou num
retiro. Faltava-lhe algo. Sossego, paz, serenidade. Algo que a preenche-se.
Queria algo firme e alegre, pois tinha, sem saber, a fé adormecida. E ela
despertou. Não foi nada de muito extraordinário, nem caiu do cavalo como São
Paulo. Despertou, simplesmente.
Nas entrevistas que concedia
defendia sempre os valores humanistas, mas nunca se dizia cristã. Pudera, a fé
dormitava! Pudera, tinha medo que a seguir a audiência não sintonizasse com o
seu programa!
Um dia casou pelo civil. Passados
anos o marido propôs que casassem pela Igreja. Antes quiseram fazer um retiro:
três dias em silêncio e em isolamento total! Foi aí que se converteu e sentiu
vergonha da sua ausência. Depois falou no seu programa da sua fé, deixou o
coração falar. Simplesmente. Foi o programa mais visto.
Num congresso das televisões de
inspiração cristã disse simplesmente: «Deus tinha-me dado tantos dons e eu
nunca Lhe tinha dado nada, nem os tinha usado para Ele!»
É isso que faz de Marisela (e
muitos outros!) tão especial: usa os seus dons para os devolver a Quem lhos
deu!
Máxima
Depressa me dei conta de que a
melhor forma de não desanimar e continuar a viver é esquecer o próprio
sofrimento e pensar nos outros, (B. Marcel Callo, mártir do Nazismo)
Mínima
Tende os vossos olhos fixos em
Jesus. (Heb 12:2)
[12 de Agosto de 2007]
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