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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Notas de Roda-pé


Sondagem
Seis anos depois uma revista francesa repetiu uma espécie de sondagem sobre a oração. Eis alguns dados verificados: 1) Não se modificou a percentagem dos que afirmam rezar ou meditar: 50%. 2) Destes 57% são mulheres; e dentre elas 68%, têm 65 anos ou mais. 3) Na faixa etária dos 18-24 anos, 65% declara jamais rezar ou meditar. 4) Dos que rezam 89% fazem-no sozinhos; e 10% todos os dias; dos que rezam todos os dias, 11% fazem-no em grupo ou em família. 5) 59% dirige a sua oração a Deus; 29% a Nossa Senhora; Cristo fica-se por umas migalhas.
Muito mais li, mas não muito muito mais. Não sei se o que aqui fica dito serve para a realidade portuguesa. Sem dados, atrevo-me a dizer que não totalmente. Mas...
Registo duas ou três notas que marcam a oração dos católicos franceses. Um em cada dois afirma rezar, o que ainda assim é uma percentagem alta. A oração é portanto um valor seguro, sobretudo se se tiver em conta que se não subiu também não baixou. Estando sujeita a tantas vicissitudes, admirei-me que a percentagem fosse tão alta.
A oração de que se fala é sobretudo um acto privado e individual (89% afirma rezar sozinho!), no recato da casa. A oração comunitária é frequentemente mais incómoda e provocadora; os ritmos de vida são intensos: parece que se quer viver duas ou três vidas numa. Se rezar poderá não ser muito apelativo, rezar em comum pode resultar muito complicado. E, sobretudo, a meu ver, na oração vai cada vez mais falhando a existência duma gramática comum, o que gera um fenómeno do género: eu sei rezar, mas talvez já não saiba rezar como rezam a minha mãe ou a minha avó. Logo não consigo rezar com, pelo que, ao menos será melhor rezar sozinho.
Os jovens não rezam ou melhor, quase não rezam: 65% não reza! E das duas uma ou não rezam mesmo, nem mesmo individualmente ou encontraram outras formas de rezar, ditas menos oficiais ou reconhecidas. A contemplação do belo, a generosidade e a amizade, a prática do bem e o gosto pelo diálogo, a ânsia duma sociedade mais justa e a opção pela defesa da natureza poderiam ser reconhecidas como formas de oração e a sê-lo, estou certo, diminuiriam os que afirmam não rezar.
Mas o mais surpreendente é que no ano de 2001, metade dos inquiridos dizia rezar em actos públicos (casamentos, baptizados e enterros) mas agora só um pouco mais de um quarto o faz, o que quer dizer que o grande lugar do culto é mesmo o coração de cada um.
Pergunto-me portanto, como nos reconheceremos no futuro? Em que lugares nos encontraremos? Que gestos comuns nos identificarão? Como nos configuraremos se não existirmos como povo?


Mudança
Porque sou carmelita há um motivo bíblico que de quando em vez me prende especialmente a atenção: é o rapto de Elias. Segundo a narrativa bíblica, no fim da sua cansativa vida o Profeta foi elevado ao Céu por um inesperado carro de fogo. São sempre engenhosas e grandiosas as telas que representam esta cena que muito gosto de contemplar. Conheço, porém, uma igreja que tem o mesmo profeta com uma espada de fogo na mão direita e na outra uma casa, que é como quem diz o Profeta é pai do Carmo. E é. O seu gosto ousado pela solidão com Deus inspira a nossa vida e move a barca da nossa existência.
Há tempos, folheando mais uma vez uma revista dominical dei de caras com uma imagem do Santo Profeta numa igreja inglesa. Não foi nem a espada de fogo, nem o carro de fogo, nem os cavalos de fogo, nem a casa na mão do Profeta o que me surpreendeu. Não, nada disso. O que me surpreendeu foi um atleta em voo de rappel rasante à cara da imagem! Sim, isso mesmo! Os templos de Inglaterra são agora ginásios, cafés, barbearias e até pocilgas. Pensar que ali, em França ou em Portugal tantos se santificaram pela oração e pela penitência naqueles espaços sagrados, e hoje eles apenas servem para o lazer!
Nem sei que diga! Nem sei como as imagens não choram ou fecham os olhos!
Mas já nada me admira. Se os jovens não rezam; e se os que rezam rezam sozinhos e em casa, obviamente não precisam de templos nem de espaços comuns. Basta-lhes o apartamento. E nele um altarzinho ou um ícone. Só para eles. E depois, quem poderá suportar os encargos de conservação dos templos antigos? As empresas, claro! Sim. Ao menos que não os arrasem, que fiquem ali como sentinelas e testemunhas de um tempo que parece ter passado e dum maneira de ser que não deveria perder-se. Porque se se perde todos perdemos, não apenas a Igreja.

Filhos

Brad é um Adónis, Angelina uma Diana. Brad é Brad Pitt e Angelina é Angelina Jolie. São um dos casais mais badalados, quer dizer falados e observados, de Hollywood. O que não fazem e o que fazem é diligentemente escrutinado, interpretado, imitado.
Sigo-os também eu há já algum tempo. Olho-os por causa dos filhos, que são cinco. Angelina tem 31 anos e Brad talvez um pouco mais. Acho muito curiosa esta família cuja vida pervive para além dela, nos jornais e na imprensa em geral.
Curiosa família esta a destes famosos.
Os filhos chamam-se: Maddox (do Camboja, 6 anos), Zahara (da Etiópia, 2 anos), Shilon (dos EUA, 9 meses), Pax Thien Jolie (Vietname, 3 anos e meio), Hsiao Kai-wan (Tailândia, 4 anos). Neste elenco da prole há logo qualquer coisa que não bate certo. Para já os nomes não dizem com nada, parecem tirados dos créditos finais de um qualquer filme. Depois a sequência das idades é mais que confusa. A seguir, só a do meio é que é filha de ambos, os outros são todos adoptados; por fim, tantos filhos, tantas nações e tantas raças!
A mãe Angelina é Embaixadora da Boa Vontade da Unicef. Tem como missão agitar as consciências adormecidas em favor dos pobres. Aonde vai leva câmaras e televisões consigo para denunciar a pobreza, muita dela provocada pelos ricos, muita dela sanável com os despejos dos ocidentais. É uma tarefa para uma mulher com a garra de Lara Croft.
Eu espero que a adopção daqueles meninos e meninas, não seja apenas um golpe publicitário e mais um gesto egoísta daquelas rutilantes estrelas de cinema.
Não me preocupa o bem-estar das crianças. Preocupa-me que, talvez por que os pais adoptivos sejam famosos, se torne mais fácil adoptar crianças. E mais do que criar uma família vinculada pela força que o sangue sempre tem (tê-la iam de outra maneira as crianças?, não sabemos...) geraram um Sociedade das Nações dentro de portas. Podem aquelas crianças ter de tudo, e até de muito mais do que teriam nas origens. Talvez nada lhes falte. Mas será lícito desenraizá-las, transplantá-las, como se uma família pudesse ser um jardim botânico? Não somos também o que foram os nossos antes de nós? Não somos também as tradições e preconceitos, língua e sonhos, fronteiras, desejos e anseios que nos chegam do antanho pelo combóio da história familiar? Estará isso ali garantido?
Angelina acaba de informar a imprensa que abandona o cinema para se dedicar à família. Ainda bem. Mas ainda assim é muito pouco.

Máxima
O sábio cristão Orígenes, fala assim sobre a vivência da Páscoa: «Quem compreende que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado e que nós devemos celebrar a festa comendo a carne da Palavra, esse está sempre a celebrar a Páscoa, que significa «sacrifício para a passagem», pois está permanentemente a passar das coisas da vida para Deus, e a caminhar depressa para a cidade de Deus.»

Mínima

Ide avisar os meus irmãos... (Mateus 28:20)

[20 Abril de 2007]

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