Sondagem
Seis
anos depois uma revista francesa repetiu uma espécie de sondagem
sobre a oração. Eis alguns dados verificados: 1) Não se modificou
a percentagem dos que afirmam rezar ou meditar: 50%. 2) Destes 57%
são mulheres; e dentre elas 68%, têm 65 anos ou mais. 3) Na faixa
etária dos 18-24 anos, 65% declara jamais rezar ou meditar. 4) Dos
que rezam 89% fazem-no sozinhos; e 10% todos os dias; dos que rezam
todos os dias, 11% fazem-no em grupo ou em família. 5) 59% dirige a
sua oração a Deus; 29% a Nossa Senhora; Cristo fica-se por umas
migalhas.
Muito
mais li, mas não muito muito mais. Não sei se o que aqui fica dito
serve para a realidade portuguesa. Sem dados, atrevo-me a dizer que
não totalmente. Mas...
Registo
duas ou três notas que marcam a oração dos católicos franceses.
Um em cada dois afirma rezar, o que ainda assim é uma percentagem
alta. A oração é portanto um valor seguro, sobretudo se se tiver
em conta que se não subiu também não baixou. Estando sujeita a
tantas vicissitudes, admirei-me que a percentagem fosse tão alta.
A
oração de que se fala é sobretudo um acto privado e individual
(89% afirma rezar sozinho!), no recato da casa. A oração
comunitária é frequentemente mais incómoda e provocadora; os
ritmos de vida são intensos: parece que se quer viver duas ou três
vidas numa. Se rezar poderá não ser muito apelativo, rezar em comum
pode resultar muito complicado. E, sobretudo, a meu ver, na oração
vai cada vez mais falhando a existência duma gramática comum, o que
gera um fenómeno do género: eu sei rezar, mas talvez já não saiba
rezar como rezam a minha mãe ou a minha avó. Logo não consigo
rezar com, pelo que, ao menos será melhor rezar sozinho.
Os
jovens não rezam ou melhor, quase não rezam: 65% não reza! E das
duas uma ou não rezam mesmo, nem mesmo individualmente ou
encontraram outras formas de rezar, ditas menos oficiais ou
reconhecidas. A contemplação do belo, a generosidade e a amizade, a
prática do bem e o gosto pelo diálogo, a ânsia duma sociedade mais
justa e a opção pela defesa da natureza poderiam ser reconhecidas
como formas de oração e a sê-lo, estou certo, diminuiriam os que
afirmam não rezar.
Mas
o mais surpreendente é que no ano de 2001, metade dos inquiridos
dizia rezar em actos públicos (casamentos, baptizados e enterros)
mas agora só um pouco mais de um quarto o faz, o que quer dizer que
o grande lugar do culto é mesmo o coração de cada um.
Pergunto-me
portanto, como nos reconheceremos no futuro? Em que lugares nos
encontraremos? Que gestos comuns nos identificarão? Como nos
configuraremos se não existirmos como povo?
Mudança
Porque
sou carmelita há um motivo bíblico que de quando em vez me prende
especialmente a atenção: é o rapto de Elias. Segundo a narrativa
bíblica, no fim da sua cansativa vida o Profeta foi elevado ao Céu
por um inesperado carro de fogo. São sempre engenhosas e grandiosas
as telas que representam esta cena que muito gosto de contemplar.
Conheço, porém, uma igreja que tem o mesmo profeta com uma espada
de fogo na mão direita e na outra uma casa, que é como quem diz o
Profeta é pai do Carmo. E é. O seu gosto ousado pela solidão com
Deus inspira a nossa vida e move a barca da nossa existência.
Há
tempos, folheando mais uma vez uma revista dominical dei de caras com
uma imagem do Santo Profeta numa igreja inglesa. Não foi nem a
espada de fogo, nem o carro de fogo, nem os cavalos de fogo, nem a
casa na mão do Profeta o que me surpreendeu. Não, nada disso. O que
me surpreendeu foi um atleta em voo de rappel rasante à cara da
imagem! Sim, isso mesmo! Os templos de Inglaterra são agora
ginásios, cafés, barbearias e até pocilgas. Pensar que ali, em
França ou em Portugal tantos se santificaram pela oração e pela
penitência naqueles espaços sagrados, e hoje eles apenas servem
para o lazer!
Nem
sei que diga! Nem sei como as imagens não choram ou fecham os olhos!
Mas
já nada me admira. Se os jovens não rezam; e se os que rezam rezam
sozinhos e em casa, obviamente não precisam de templos nem de
espaços comuns. Basta-lhes o apartamento. E nele um altarzinho ou um
ícone. Só para eles. E depois, quem poderá suportar os encargos de
conservação dos templos antigos? As empresas, claro! Sim. Ao menos
que não os arrasem, que fiquem ali como sentinelas e testemunhas de
um tempo que parece ter passado e dum maneira de ser que não deveria
perder-se. Porque se se perde todos perdemos, não apenas a Igreja.
Filhos
Brad
é um Adónis, Angelina uma Diana. Brad é Brad Pitt e Angelina é
Angelina Jolie. São um dos casais mais badalados, quer dizer falados
e observados, de Hollywood. O que não fazem e o que fazem é
diligentemente escrutinado, interpretado, imitado.
Sigo-os
também eu há já algum tempo. Olho-os por causa dos filhos, que são
cinco. Angelina tem 31 anos e Brad talvez um pouco mais. Acho muito
curiosa esta família cuja vida pervive para além dela, nos jornais
e na imprensa em geral.
Curiosa
família esta a destes famosos.
Os
filhos chamam-se: Maddox (do Camboja, 6 anos), Zahara (da Etiópia, 2
anos), Shilon (dos EUA, 9 meses), Pax Thien Jolie (Vietname, 3 anos e
meio), Hsiao Kai-wan (Tailândia, 4 anos). Neste elenco da prole há
logo qualquer coisa que não bate certo. Para já os nomes não dizem
com nada, parecem tirados dos créditos finais de um qualquer filme.
Depois a sequência das idades é mais que confusa. A seguir, só a
do meio é que é filha de ambos, os outros são todos adoptados; por
fim, tantos filhos, tantas nações e tantas raças!
A
mãe Angelina é Embaixadora da Boa Vontade da Unicef. Tem como
missão agitar as consciências adormecidas em favor dos pobres.
Aonde vai leva câmaras e televisões consigo para denunciar a
pobreza, muita dela provocada pelos ricos, muita dela sanável com os
despejos dos ocidentais. É uma tarefa para uma mulher com a garra de
Lara Croft.
Eu
espero que a adopção daqueles meninos e meninas, não seja apenas
um golpe publicitário e mais um gesto egoísta daquelas rutilantes
estrelas de cinema.
Não
me preocupa o bem-estar das crianças. Preocupa-me que, talvez por
que os pais adoptivos sejam famosos, se torne mais fácil adoptar
crianças. E mais do que criar uma família vinculada pela força que
o sangue sempre tem (tê-la iam de outra maneira as crianças?, não
sabemos...) geraram um Sociedade das Nações dentro de portas. Podem
aquelas crianças ter de tudo, e até de muito mais do que teriam nas
origens. Talvez nada lhes falte. Mas será lícito desenraizá-las,
transplantá-las, como se uma família pudesse ser um jardim
botânico? Não somos também o que foram os nossos antes de nós?
Não somos também as tradições e preconceitos, língua e sonhos,
fronteiras, desejos e anseios que nos chegam do antanho pelo combóio
da história familiar? Estará isso ali garantido?
Angelina
acaba de informar a imprensa que abandona o cinema para se dedicar à
família. Ainda bem. Mas ainda assim é muito pouco.
Máxima
O
sábio cristão Orígenes, fala assim sobre a vivência da Páscoa:
«Quem compreende que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado e que nós
devemos celebrar a festa comendo a carne da Palavra, esse está
sempre a celebrar a Páscoa, que significa «sacrifício para a
passagem», pois está permanentemente a passar das coisas da vida
para Deus, e a caminhar depressa para a cidade de Deus.»
Mínima
Ide
avisar os meus irmãos... (Mateus 28:20)
[20 Abril de 2007]
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