Auschwitz
Auschwitz é o outro nome do mal. Ou
melhor é o mesmo nome. São a mesma coisa. De tal modo o nome remete para o
campo onde o mal cultiva o horror que se pode falar de um tempo antes de
Auschwitz e um tempo depois de Auschwitz. Foi o maior dos campos de
concentração da Alemanha Nazi (na verdade eram três campos de concentração!).
Em cinco anos, de 1940 a 1945, ali morreram mais de 2,5 milhões de pessoas!
Antes de morrer, porém, eram obrigados a trabalhar intensamente como mão de
obra escrava até ao último esgotamento («O trabalho liberta», afirmavam os
Nazis!). E os que dele não morriam foram exterminados nos duches em que eram
gaseados e depois eliminados nos fornos crematórios. Assim expiaram as culpas
de serem diferentes, ou adversários políticos ou simplesmente judeus ou
cristãos.
No complexo de extermínio de Auschwitz a
dignidade humana morreu às mãos do mal. O desrespeito pela pessoa humana chegou
a tal ponto que se negou que valesse algo. Em memória do Holocausto o estado
polaco criou em Auschwitz um museu. Quem o visitou diz que, à saída, o silêncio
diz: «Nunca mais!».
Há alguns anos o Vaticano sugeriu que
naquele lugar em que o mal imperou se fizesse memória dos que ali pereceram. O
silêncio e a oração seriam a forma da memória. Uma comunidade de freiras
católicas, carmelitas, chegou mesmo a viver e a rezar ali. Mas os judeus de
todo o mundo e outras cabeças bem-pensantes levantaram a voz e forçaram a saída
das freiras que levaram com elas a cruz de Jesus que se via num pátio. Contudo,
diga-se, os judeus não tiveram o monopólio das mortes em Auschwitz...
Um destes dias a imprensa noticiou, num
minúsculo quadradinho, que em Auschwitz se construiu um centro comercial que
inclui uma discoteca. Contradições, ou talvez não..., pensei. Como não se ergueram
vozes (e ainda bem, porque se se erguessem teriam dito que eram católicos
saudosistas com sede de retaliação...) quero entender que a morte ignominiosa
de tantas pessoas é hoje melhor honrada com o riso, o divertimento e o consumo
que com o silêncio e a oração! O futuro julgará a insensatez!
Café quente
Sábado à noite. Um sábado como outro
qualquer. No tabuleiro da ponte 25 de Abril ficou parado um ligeiro de
mercadorias. Pouco depois informam o 112 que o condutor se apeara e ameaçava
suicidar-se. A noite está fria e ele está ali há muito tempo, desiludido de si
e dos outros... Cortado o trânsito sobre a ponte acorrem a PSP, GNR, Polícia
Marítima e Bombeiros. A primeira leitura confirma que a tragédia está iminente.
Arrojado um jovem bombeiro adianta-se sobre o abismo e pela noite dentro ao
encontro do suicida. E oferece um pouco de conversa e um café quente. O suicida
aceita, e depois de dois dedos de conversa e o café quente desiste dos seus
nefastos intentos.
Sobre o gelado abismo encontraram-se duas
pessoas, um desesperado e um salvador. Era noite. Um ofereceu uma ponte de
regresso. Era uma ponte cheia de calor. O outro precisava tão só que lhe
aquecessem as desilusões da vida. E regressou pela ponte que lhe estenderam.
Enfim, tanto frio e tantas vidas que se perdem porque não há calor bastante que
dilate as pontes e possibilite encontros salvadores como este!
Hino
Passados cinco séculos da chegada dos
primeiros missionários portugueses Timor tornou-se independente. É o oitavo
estado de língua portuguesa e o primeiro estado independente a nascer neste
século.
Não assisti a toda a cerimónia da
independência e transferência de poderes, mas o que vi comoveu-me. Tinha
curiosidade em confirmar se o presidente Xanana Gusmão cantaria ou não o hino
do novo país, o país de que é presidente. Porém, não me foi possível tal
confirmação. Compreendo que Xanana se sinta desajustado na tarefa e no lugar
para que foi eleito. Compreendo e aceito que seja mais fácil pintar para a
história o quadro de herói que realmente é. Já não compreendo bem que um
presidente não cante o hino do seu país. Terá cantado, não terá cantado? Não
sei. Consta que o hino de Timor Lorosae contém referências ao colonialismo de
Portugal. Talvez isso desagrade a Xanana; e talvez desagrade pelo muito que
Timor ainda precisa de Portugal.
À hora em que escrevo a selecção ainda
não jogou com os EUA. Ouço, entretanto, dizer que Timor está a fazer tudo para
arranjar um satélite que faça chegar ali as emoções do jogo. É preocupação
pelos portugueses que lá vivem, mas não será só por eles.
Quando se falava da lesão de Figo este
terá dito que não queria que ela se tornasse questão de estado. Claro que
queria falar de Portugal. Mas agora já não tenho bem a certeza. Ou melhor,
penso que também Timor puxa por Figo e pelos outros dez da selecção lusa. É
claro que Figo também não quererá desiludir os adeptos timorenses. Quer dizer,
o que a História separa une a emoção do futebol!
Crianças
No passado dia 1, nos diferentes jornais
da noite vou vendo formas diversas de festejar o Dia Mundial da Criança. Nunca
são demasiados os festejos, diga-se. Salto de uns para outros, dum canal para o
outro e outro. E além dos festejos também deparo com denúncias, entre elas a de
que há muito trabalho infantil em Portugal. E há.
A seguir ao noticiário seguem as
novelas. Como não as sigo não arrisco um número mas sei que são muitas as
crianças nelas intervenientes. Durante um telejornal uma
criança-a-fazer-que-era-jornalista entrevista uma criança-actriz. Esta revela
com algum embaraço que os últimos trabalhos em televisão a obrigaram a chumbar
o ano. Pois, penso eu, e nem admira...
No écran segue a novela e nela vão
desfiando-se presenças várias de diferentes crianças. E eu que não sou mais
inteligente que ninguém pergunto-me: E quem se lembra (e protege) das crianças
intervenientes em actividades como filmes, telenovelas, desporto, moda? Não é
de certeza errado afirmar que nestas actividades, pretensamente lúdicas, as
crianças são exploradas como, de resto, o são noutras actividades cujas
denúncias são frequentes. Mas porque o serão numas situações e noutras não?
1’ de sabedoria
-- Qual é a
acção mais nobre que uma pessoa pode realizar?
O Mestre
respondeu: -- Parar e dedicar tempo à meditação.
O Mestre,
porém, raramente era visto sentado a meditar. Vivia continuamente envolvido
pelos trabalhos da casa e do campo. Atendia as pessoas, escrevia livros e,
acima de tudo, ainda arranjava tempo para fazer a contabilidade do mosteiro. Ao
testemunhar a azáfama alguém lhe perguntou:
--Parar e
meditar?, mas o senhor passa o tempo a trabalhar!
-- Ora,
respondeu o mestre, quem disse que alguém, enquanto trabalha, precisa parar de
meditar?
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