Elo
Foi Ele que propôs a Aliança. É Ele que
sustenta a Aliança. É Ele quem renova a Aliança. É Ele quem restaura a Aliança.
Ele é o elo mais forte. Ele é concerteza o elo mais forte, mas necessita de
nós... O elo mais forte não derrota ninguém, espera por nós, necessita de nós,
joga connosco. O elo mais forte precisa do elo mais fraco. Não joga ao «bota
fora». Fora ou dentro joga sempre o jogo da vida connosco. Vida em aliança. Ele
é o elo mais forte, mas não fica mais fraco se lhe ganharmos o jogo. Aliás, o
elo mais forte joga para perder. E ganha se ganharmos. E nós ganhamos se Ele
perder. Foi Ele quem o disse. Na cruz Ele perdeu para ganhar e ganhou-nos de
vez, mesmo que antes tenhamos perdido ao romper a aliança. O elo mais forte
ganhou perdendo, e na sua derrota ganhamos nós, o elo mais fraco.
Ó feliz culpa!
Oxalá
Alguém chamou «mística do oxalá» àquela
tendência demasiadamente humana de frequentemente enchermos a boca e o coração
com adiamentos: «Oxalá eu fosse rico!»; «Oxalá a minha mulher tivesse carácter»;
«Oxalá a saúde dos meus filhos fosse melhor»; Oxalá o meu patrão fosse
honesto»; «Oxalá o meu sócio fosse pontual»; «Oxalá eu tivesse mais tempo»;
«Rezarei quando tiver mais tempo, oxalá..»; «Quando me reformar começo a ler a
Bíblia».
Pois sim, na era da vertigem vivemos
para o «oxalá» quando se esperaria a capacidade de viver para o «hoje», o «já».
Lamentamos, arrastamo-nos.
A vertigem é provavelmente virtual,
muito pouco real. Ou talvez nos tenhamos convertido em virtuais e já não nos
lembremos que nada é para amanhã. É hoje, aqui e agora, nas circunstâncias
concretas da vida que o encontro se dá. Sim, o encontro. Com que volúpia
vivemos o adiamento do encontro! Julgamos necessário criar condições ideais de
aconchego, e ele dá-se na valeta dos caminhos. Julgamos necessário convocar
toda a imprensa, e ele dá-se no anonimato. Julgamos necessário esperar pelo
descanso merecido, e ele acontece quando as mãos estão atadas às redes (e
também no fim de uma campanha fracassada...). Julgamos necessário cursar todos
os conceitos, e ele dá-se no pré-conceito! Julgamos, estruturamos, adiamos. E
afinal é onde me encontro, e como me encontro, que Deus se quer encontrar
comigo.
Bíblia
Ana Maria Alves nasceu no dia 4 de Julho
de 1902, em Pico de Regalados, Vila Verde. Nasceu na Casa onde mora. Tem cinco
filhos, dezasseis netos e vinte e nove bisnetos. Não fora a descendência e a
rotina da sua vida pouco teria mudado: trabalho e fé em Deus.
Agora tem mais tempo, e já que o tem
emprega-o no que sempre gostou: ler! Acabou de ler as memórias da Irmã Lúcia
(sem recurso a lentes!) e não passa dia que não leia a Bíblia! Custa-lhe, isso
sim, ler letra miudinha como a das Cartas de S. Paulo, mas não lhe custa nada
ler o Evangelho de S. Marcos.
Não creio que exista receita para a
longevidade. Mas viver cem anos empapado em Palavra de Deus deve ser caso raro.
Ao nível da fé costumamos chamar pão à Palavra. Não me admiraria que tal ementa
favorecesse o optimismo e o gosto de viver de Dª Ana Maria Alves. Quanto
caberia aprender dela!
Todo
Há homens que nos marcam. Às vezes nem
sabemos por quê. Mas o certo é que nos marcam. O dr. Raimundo C. Meireles
marcou-me. Não sei porquê mas marcou-me. Penso que foi a sua simplicidade e o
facto de ser velho e lúcido. Após 42 anos de trabalho académico jubilou-se em
1999; brevemente celebrará o seu jubileu sacerdotal.
Recentemente um jornal entrevistou-o e
perguntou-lhe que diria às gerações mais novas que as iluminasse na
complexidade da vida actual. A resposta não podia ser mais inesperadamente
iluminadora: «contradigo-te para que possuas a totalidade» (S. Agostinho! Nem
mais. O todo não a parte é o que nos sacia. Não apenas o acelarador mas também
o travão. Não apenas a tradição mas também o progresso. Não apenas a inovação
mas também a conservação. Não apenas a velocidade mas também a contemplação.
Oferecer a outra parte a quem só se abre à contrária. Oferecer a totalidade a
quem se confina a uma fracção. Ó que programa mais exigente! Mais exigente para
o mestre que para o discípulo. Não basta contradizer, é necessário oferecer a
parte em falta oferecendo a visão global que promove o progresso de que
necessitamos.
Filhos
Li uma notícia curiosa num daqueles
rodapés que os telejornais inventaram como se fossem talhos a debitar os
produtos à disposição do cliente. O recurso é curioso, passa informação menor
sem implicações de maior. Num destes dias li que o governo passara a promover o
aumento do número de filhos por casal. Não garanto que o texto fosse este, mas
a mensagem era. Fiquei perplexo e duvidoso, mas a mensagem passou de novo. Não
havia dúvida. Não garanto a fundamentação que possa ter, não li nem ouvi mais
nada sobre o assunto.
Como não vão longe os tempos em que o
ideal era ter um ou dois filhos! Só um ou dois! Quem não se lembra do esforço
que se fez em promover o aumento da qualidade de vida e educação dos filhos (e
para tal se propunha a diminuição dos mesmos...)? Então, como é? Já é
necessário inverter o discurso? Bastará apenas apostar num filho? Porquê agora
a necessidade de aumentar a natalidade? Porque é que em tão pouco tempo variam
tanto as opiniões e a legislação e em assuntos tão importantes?
Mais uma vez o discurso da Igreja
Católica se vê confirmado. O que antes era contestado e ridicularizado por
arcaico («não havia televisão», lembram-se?) agora é actual e imperioso. Não se
sugere, apoia-se. Não se aconselha-se, sustenta-se com subsídios. Em poucos
dias mais um discurso nosso sai reconhecido..., embora apenas numa nota de
rodapé!
1’ de sabedoria
Estavam todos
os discípulos seriamente envolvidos numa discussão a respeito da dor e do
sofrimento humano.
Segundo uns,
a causa da dor é o egoísmo; segundo outros é a ilusão; outros ainda afirmavam
que se devia à incapacidade de distinguir o real do irreal. Por fim consultaram
o Mestre, que disse:
-- Todo o
sofrimento que existe vem da incapacidade que as pessoas têm de ficar paradas e
a sós consigo mesmas.
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