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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Santidade, um procurar agradar a todos!


A Palavra de Deus deste domingo coloca de novo o sofrimento humano diante do nosso olhar e à
consideração da nossa inteligência e fé. Mais uma vez Jesus mostra como se faz: quebra barreiras, vai ao encontro, salva e devolve a saúde implicando-se com quem sofre.
Por outro lado, escutaremos na segunda leitura, da primeira carta aos 
Coríntios, uma série de normas para que os fiéis de comunidade saibam comportar-se na vida e agradar a Deus. Paulo anseia por fazer chegar o Evangelho a todos e apresenta-o com a sua palavra e com a sua vida, a fim de que todos o possam aceitar. O Apóstolo é a norma da comunidade, porque ele tem Cristo como a sua norma.

Como haveriam os cristãos de posicionar-se como indivíduos e como comunidade na amplitude do convívio social e no contacto com as outras religiões? A resposta é uma tarefa árdua para o Apóstolo que cruzou continentes e mares, culturas e religiões, para anunciar a Cristo e plantar a Boa Nova da salvação de Jesus.
Com toda a naturalidade a adesão ao Ressuscitado rapidamente incorporou homens e mulheres de muitas proveniências culturais e religiosas: judeus ortodoxos e da 
diáspora
— mais estritos os primeiros, mais liberais os segundos — que obedeciam à Lei; e muitos outros chegados de nenhuma fé ou obediência; e, como é óbvio, também outros de outras muitas crenças; e ainda os simples e os sábios, os acirrados e os frágeis. As comunidades 
paulinas eram tão diversas como diferentes eram as suas origens. Paulo sentiu isso, sentiu todo o emaranhado de tensões, os apelos e amarras do passado e as buscas de sentido. Por exemplo, como propor Cristo a um grego que antes se convertera ao judaísmo? E como anunciar o Evangelho a alguém que obedecera a um qualquer outro culto pagão? A todos, a uns e a outros, Paulo propôs a santidade de vida.
Aos 
coríntios Paulo propôs uma forma de comportamento, que os integrasse no conjunto da sociedade e que agradasse a Deus. Não foi fácil. Ainda hoje se verifica entre os cristãos o julgamento de que Deus aprecia carradas de orações, fazer muitas promessas e mortificações extraordinárias. Compreende-se que assim seja: levámos muitos séculos a destacar e a exaltar essas notas na vida dos santos, parecendo que só vivendo assim se poderia chegar a santo, e naturalmente chegar a fazer muitos milagres!
Porém, conceber assim a santidade é uma aberração que traz mais perigos que proveitos. A ser assim a santidade seria algo
inalcançável, algo que estaria reservado a uma élite muito pequena. Em consequência estaríamos a assumir que Deus ao pedir-nos para sermos santos nos estaria a propor um objectivo exagerado, fora do comum, só para heróis.
A santidade, porém, não é isso que tantas vezes nos pregaram, que nos insinuaram, que com armas de retórica maciça nos bombardearam.
A santidade é mais simples. E é aqui que convém escutar Paulo, quando nos diz que até o comer e o beber, isto é, qualquer coisas simples que possamos fazer, pode dar glória a Deus, agradar-Lhe e engrandecer o seu Nome. Isto é, a simplicidade de vida — sim, com toda a certeza, a simplicidade e 
discreção de vida de tanta gente anónima! — encerra muita beleza e santidade e é muito agradável aos olhos de Deus. E a santidade é precisamente isto: viver a vida de tal forma que Deus esteja contente connosco, ou, para usar a linguagem que antigamente se usava e ainda é válida: a santidade é fazer a vontade de Deus.
Disse-se que o importante é que saibamos agradar a Deus. Mas o que o texto do Apóstolo refere é «agradar em tudo a todos». É algo tão amplo e exigente que parece não fazer sentido, mas faz. Procurar agradar aos outros como refere o Apóstolo é procurar que todos encontrem a Deus, dEle nunca se separem e assim todos se salvem. Isto é sem dúvida procurar a glória de Deus esquecendo a nossa pessoal. Procurar ser santo é, portanto, procurar viver sempre com o coração imerso em Deus, procurando querer o que Ele quer, pondo cada dia mais amor em tudo o que vamos fazendo, até mesmo nas coisas simples e sem importância. Essa pitada de amor que se exige de nós há-de colocar-se ao serviço de todos, até mesmo daqueles que não nos agradam tanto, ou dos que nos pagarão com más palavras, ou ainda que vão malinterpretar o nosso desejo de bem servir com amor.
Deus não pede o impossível, ainda que o que fica dito atrás o pareça ser. A solução está em nos socorrermos humilde, constantemente e em confiança do Senhor. O projecto de santidade é árduo, mas se alguém pode ajudar a alcançar o objectivo é Deus, que em nós primeiro o acende! O que não podemos, Ele pode. É 
concerteza necessário empregar todo a nossa coragem, mas sem Ele nada podemos. Por essa razão, lá teremos de ir rezando e com o maço dando, isto é, implorando a ajuda de quem a pode dar: Deus!

[Chama do Carmo - 15 de Fevereiro de 2009]

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