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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pelos labirintos do mundo


A marca do início é sempre algo feliz e esperançoso. Iniciar um novo Ano Pastoral deve despertar-nos para a novidade da Presença Divina, que vem aos nossos corações e à nossa comunidade de forma sempre nova e cheia de graça. Da minha leitura do próximo Ano Pastoral deixo-vos cinco marcas especiais:
Primeira marca: O labirinto
Terminaram as obras. Estamos cansados e de arcas vazias, mas não abatidos nem vencidos. A fachada da igreja ficou limpa e digna; o Adro parece maior, a sobriedade torna-o mais belo. Como tudo o resto.
À entrada do adro inscrevemos um desenho dum labirinto. Pode parecer estranho que ao virmos à igreja nos receba um símbolo tão inesperado. Ele apenas quer dizer que os passos que passam pelos caminhos do mundo, se encontram todos ali. Quanto custa às vezes, vir à igreja rezar em comunidade! Quantas vezes a nossa vida pessoal e familiar é um emaranhado de confusões e de estorvos!
O labirinto quer recordar-nos que tudo é mais fácil com Deus: basta confiar! Ele recorda‑nos que os caminhos duros da vida, se levados com Deus são auto-estradas largas e fáceis; e que os caminhos largos e sem Deus são abismos escuros, são precipícios terríveis onde nos espera a derrota e a morte.
O labirinto recorda-nos o que nos ensina Santa Teresa: Não chega fazer a viagem à igreja; falta depois fazer a viagem ao interior da nossa alma — tantas vezes mais confuso que a vida exterior! É necessário que tu caminhes até ao mais profundo centro da tua alma, aonde só se chega depois de vencidas seis moradas. Aí, na sétima, no centro mais profundo, unir-te-ás intimamente ao teu Senhor.
Vem, vinde ao Carmo. Pisai aquele labirinto. Recordai que à canseira física sucedem os trabalhos do espírito. Vinde e reconciliai-vos. Vinde e alimentai-vos do Pão da Vida para não desistirdes nem fraquejardes na peregrinação.
Segunda marca: A atenção aos pobres
O novo Ano Pastoral pede-nos que prestemos atenção aos pobres. O título oficial é O serviço aos pobres é o sinal visível da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A Igreja foi sempre mais verdadeira quanto mais olhou o rosto dos pobres e nele reconheceu o rosto de Jesus Cristo. Perguntei-me o que poderia fazer a nossa Comunidade do Carmo pelos pobres. Será preciso gastar muito dinheiro? Será preciso privar-nos dos nossos bens? E a resposta surgiu-me em dois pontos. Assim:
1. A partilha de bens é necessária e ajuda o pobre. Mas não é suficiente se, como pede o Papa, não «fizermos um exigente exame de consciência» à nossa vida e aos nossos haveres. O exame nos dirá que é possível valorizar a gratuidade; que podemos fazer muito bem sem recorrermos aos subsídios do Estado; que podemos valorizar o mais: é sempre possível fazer mais, fazer melhor, fazer com o coração, fazer com o sorriso, aquele sorriso que nasce da oração. É sempre possível valorizar o mais e viver com menos! Será que já o tentámos?
2. Existem uns pobres que estão impossibilitados de arrastar-se até às portas das igrejas, às esquinas das ruas ou aos mercados. São os pobres de relação, aqueles que ninguém visita, a que ninguém oferece o toque da mão.
São Policarpo dizia: «Quando puderdes fazer o bem não adieis». E eu dir-vos-ei: Quando puderdes visitar alguém que seja tão pobre que não consiga atravessar-se à frente do vosso olhar, visitai! Visitai, porque essa caridade é da melhor.
No breviário do papa João Paulo I — o Papa do sorriso! — foi encontrada uma oração doce como uma súplica de criança, escrita pelo seu punho. Reza assim a sua oração: «Peço-te uma graça: gostava que Tu estivesses a meu lado na hora em que eu fechar os olhos para a vida terrena. Gostava que apertasses a minha mão na tua, como faz a mãe com o seu filho pequeno, no momento do perigo. Obrigado, Senhor.»
A terceira marca: A celebração de CentenáriosPor graça de Deus, neste novo Ano Pastoral é-nos renovada a alegria da celebração de novos centenários. Durante o Ano anterior celebramos uns, agora serão outros. Assim é porque somos uma família com muita história e de boa memória.
Uma comunidade é sempre alicerce dos que hão-de vir. Os que nos precederam, vivendo e amando o Carmo antes de nós, legaram-no-lo e são os nossos fundamentos. Nós caminhamos sobre a santidade dos nossos irmãos. É por isso que não me resigno a ter de celebrar mais centenários. Não me resigno; alegro-me e agradeço a Deus essa graça.
A 19 de Novembro completam-se os cem anos da morte de S. Rafael Kalinowski, restaurador do Carmo polaco (Vede a sua imagem à entrada; vede como é bonita aquela sua atitude de bênção sobre o mundo...); celebraremos o VIII centenário da nossa Regra, e o I do nascimento da Irmã Lúcia.
Hoje celebramo-los a eles, e nós?, e nós que somos fundamento do futuro, quando nos celebrarão a nós? Ou melhor dito: quem de nós estará disposto a sofrer e a amar tanto o Carmo, que venha a merecer ser recordado como uma pedra ou uma coluna que o construiu, o engrandeceu e o sustentou? Quem?
Quarta marca: Os Filhos do CarmoSaiu hoje um livro que se chama Filhos do Carmo. São pequenas histórias de alguns filhos desta casa. Pode ser encontrado na Lojinha. Este livro é uma pequena estratégia para angariar fundos que paguem a Cruz Processional. Agradeço sentidamente a vossa filiação carmelitana, particularmente a dos biografados que favoreceram esta causa. Por favor: Levai-o! É uma ajuda que nos fazeis, e que ele nos estimule a sermos santos como os que lá estão.
Há dias, nós, os três frades, ponderávamos a compra de algo necessário. Mas logo parámos: não há dinheiro, concluímos. Até que um os frades exclamou: «Arre!, que o dinheiro está sempre a estorvar as coisas de Nosso Senhor!» Assim é, entre nós e entre vós. Porém, que só Deus seja sempre louvado nas nossas vidas. Só Deus, jamais o dinheiro!

Última marca: As contas das obrasParece que só falo delas, e falo. Eu falo do que é meu dever falar. Direi o que já disse uma vez: Só fizemos o que devíamos ter feito! Fizemo-lo sem dar passo algum maior que a perna. Desde o início das obras do Adro que o Empreiteiro conhecia as nossas dificuldades, pois cuidamos em denunciá‑las com humildade. Pela estima que nos tem, aceitou trabalhar sabendo que as facturas poderiam tardar em ser pagas. As posteriores dificuldades que caíram sobre a sua empresa não as contava ele nem nós. Portanto, se muito falo das nossas dívidas é também por dever de solidariedade com quem aqui amassou o pão justo de cada dia!
Os peditórios mensais renderam: 537,50€, em Junho; 900,00€, em Julho; 565,00€, em Agosto; e 1.090,00€, em Setembro. O total não chega a 10% da penúltima factura que temos de pagar! E depois falta a última! Porém, a minha confiança mais firme é a de que nunca Deus faltou a quem por Ele trabalhou!
Aqui termino, confiando-vos que vivo e rezo confiado. Confio que tudo isto é para louvor de Nossa Senhora do Carmo e para honra da Santíssima Trindade. São Eles a quem mais amamos e servimos. Que eles nos abençoem e nos acompanhem nos labirintos deste novo Ano Pastoral.

Homilia da Eucaristia de abertura do novo Ano Pastoral
[6 de Outubro de 2007]

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